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domingo, fevereiro 26, 2006

Derrota comprometedora


Benfica  1   -   0  FCP


Factos são factos: Co Adriaanse nunca conseguiu vencer Ronald Koeman nem nenhum dos mais fortes candidatos ao título: Benfica, Braga e Sporting. É verdade que a «taça BES» não vale tanto como o campeonato, mas a jogar assim perdemos os dois.

A equipa inicial portista não tinha surpresas. Na teoria era uma equipa em 3-3-4 mas não foi isso que mostrou o início do jogo. Paulo Assunção jogou sempre muito recuado toda a primeira parte o que desiquilibrou claramente o meio-campo perdendo poder de recuperação de bolas, onde Raúl Meireles nem era trinco nem «volante» e Lucho não conseguia conduzir o jogo ora pela marcação apertada de Manuel Fernandes ora por não ter bola jogável.

O quarteto da frente esteve no mínimo desinspirado, sobretudo nas alas onde Ivanildo não conseguiu criar perigo, quer nos ataques quer nos cantos e Quaresma procurou esteve nuito abaixo do expectável apostando em demasia o «um-para-um» em vez de jogar mais para a equipa e perdendo-se em muitas quezílias com jogadores adversário. McCarthy e Adriano tiveram uma tarefa ingrata já que a bola nunca lhes chegava em condições, obrigando-os a sair das suas posições para procurar jogo.

O Porto entrou claramente para defender primeiro e só depois pensar em atacar. Por indicação de Adriaanse? O certo é que se perdiam muitas bolas a meio-campo ora por passes errados ora por antecipações do adversário e quando se recuperavam era mais chuto para a frente do que jogadas pensadas. Apesar disso, a defesa ia chegando para os ataques do Benfica até que Robert marca o único golo da partida perante um Baía que podia ter feito muito melhor. Estávamos no minuto 39 e até final da primeira parte ainda houve mais duas grande oportunidades, uma para cada lado.

A segunda parte começou com o Porto mais ofensivo e sobretudo com uma atitude diferente, para melhor, procurando inverter o resultado negativo. Paulo Assunção subiu no terreno e com isso Raúl Meireles ficou mais solto no meio-campo e Lucho começou a apoiar o ataque tante pelas alas como pelo centro. O jogo ficou mais aberto e o Porto teve algumas oportunidades por McCarthy e Lucho mas não foram capazes de marcar. O Benfica recuava e espreitava o contra-ataque que a defensiva portista conseguiu sempre anular com Pepe e Pedro Emanuel em bom nível.

Até final Adriaanse ainda pôs Hugo Almeida, Jorginho e Lisandro mas de nada valeu. O treinador holandês ainda não percebeu que não é jogando com muitos avançados que se ganham jogos. De que adianta ter muita gente na frente quando não têm bola jogável?

Quanto ao árbitro, João Ferreira, e apesar de não ter interferido directamente no resultado, esteve ao seu nível. Começou a distribuir amarelos a tudo que vestia de azul-e-branco. Ora por entradas ora por protestos mas nunca teve um critério uniforme. A equipa do Benfica só viu o primeiro cartão amarelo perto do final do jogo e quase a pedido. Muitas faltas atacantes marcadas ao FC Porto enquanto que do outro lado do campo eram sempre marcadas ao contrário. Lançamentos anulados não se sabe bem porquê, enfim, a verdadeira aribtragem habilidosa.

Como é moda agora dizer, o nosso campeonato fica assim mais «competitivo» à custa do Porto que desperdiça uma oportunidade única de afastar o Benfica da luta pelo título e manter os 5 pontos de vantagem para o Sporting. Até ao fim deste campeonato ainda vamos sofrer muito... ao menos que valha a pena.


Mais e Menos

+ Pepe Cortou o que tinha a cortar, recuperou algumas bolas e ainda se aventurou no ataque. Em bom nível.

+ Pedro Emanuel Esteve seguro no lado esquerdo da defesa. Não deu hipóteses a Simão nem a Robert.

+ Paulo Assunção Foi precioso a defender, sobretudo na segundo parte que praticamente fez duas funções sempre com grande disponibilidade. Se Lucho e Meireles fossem tão eficientes...

- Lucho e Meireles Estiveram abaixo do razoável. Nunca conseguiram dominar o meio-campo muito por culpa da superioridade numérica do adversário.

- Baía A comemoração do 400º jogo fica manchada por uma falha mas que não retira brilho à sua grande carreira no FC Porto. Foi apenas uma noite infeliz.

- Adriaanse Além de não ganharmos, ainda jogamos mal. Onde estão os jogos espetaculares prometidos no início da época? As boas exibições? Pelo menos sempre perdíamos com estilo...


Declarações

Co Adriaanse (FC Porto)

«Foi um clássico típico. Não foi um bom jogo, teve muitas faltas e muitos passes falhados. O Benfica jogou com mais velocidade, mais agressividade e teve mais oportunidades. Venceu com justiça. Esperava mais da minha equipa, mas o Benfica jogou melhor».

Sobre o campeonato: «Estamos na frente do campeonato há muitas semanas. O Sporting é perigoso, joga bom futebol, tal como o Benfica. Mas nós também temos as nossas armas».


Vitor Baía (FC Porto)

«Não era o resultado de que estávamos à espera. Não estivemos ao nível dos últimos jogos, muita embora a segunda parte tenha sido melhor do que a primeira. Assumo a minha parte de responsabilidade no golo. A bola parecia que tinha controlo remoto».


Ficha do Jogo

Liga 2005/06 (24ª jornada)

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: João Ferreira (Setúbal)
Assistentes: João Santos e Pais António
4º árbitro: Elmano Santos

BENFICA: Moretto; Alcides, Luisão, Anderson e Leo; Petit e Manuel Fernandes; Robert, Karagounis e Simão «cap.»; Nuno Gomes
Substituições: Robert por Marco Ferreira (74m), Karagounis por Beto (76m) e Nuno Gomes por Ricardo Rocha (90m)
Não utilizados: Quim, Marcel, Nélson e Manduca
Treinador: Ronald Koeman

F.C. PORTO: Vítor Baía; Bosingwa, Pepe e Pedro Emanuel «cap.»; Paulo Assunção; Quaresma, Lucho González, Raul Meireles e Ivanildo; McCarthy e Adriano
Substituições: Raul Meireles por Lisandro Lopez (72m), Ivanildo por Jorginho (72m) e Quaresma por Hugo Almeida (81m)
Não utilizados: Paulo Ribeiro, Ricardo Costa, Ibson e Bruno Alves
Treinador: Co Adriaanse

Ao intervalo: 1-0
Marcadores: Robert (39m)
Disciplina: Cartão amarelo a Quaresma (26m), McCarthy (51m), Pedro Emanuel (57m), Simão (71m), Petit (73m) e Paulo Assunção (77m)

* Fotos AP (Associated Press)

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Não havia melhor?

O árbitro nomeado para o Benfica-Porto no próximo Domingo é o setubalense João Ferreira. Aguardava ansiosamente por esta nomeação, não porque desconfie da CA da Liga ou por qualquer receio às qualidades dos árbitros portugueses.

Bruno Paixão não podia ser porque apitou há pouco tempo o Porto (por duas vezes!) e Lucílio Baptista também não porque apitou o último jogo do Benfica. A dúvida era: qual o pior árbitro disponível? A resposta só podia ser João Ferreira.

Já Pedroto dizia que se devia sempre desconfiar dos árbitros de Setúbal, lá teria as suas razões. Espero que a arbitragem seja boa e que McCarthy não seja expulso por servir de sofá como aconteceu na época passada, em Alvalade, ou que não haja penaltys fantasmas a favor do Benfica como aconteceu esta época, em Braga.

MST: A hora da verdade

«1. Hoje à noite o Benfica tem um teste elucidativo sobre o seu verdadeiro valor. Teve-o também antes contra o Manchester United, onde passou com distinção, é facto, mas o Manchester desta época e, sobretudo, o de Dezembro passado, é uma pálida imitação dos «red devils» de um passado recente, que tudo atemorizavam. O Liverpool, para além de campeão europeu em título, é melhor equipa e mais calculista. Contra ele, o Benfica tem de jogar o seu máximo e então se verá se o seu máximo está ou não ao mais alto nível europeu.

Ao iniciar com uma derrota inapelável este terrível ciclo de nove dias em que tudo se pode sonhar e tudo se pode perder, o Benfica de Ronald Koeman parece ter lançado a descrença entre os seus — adeptos e jornalistas. De repente, a tão louvada equipa de há três semanas atrás parece já não inspirar confiança a ninguém e o seu treinador virou um saco de pancada ao alcance de todas as frustrações.

Acusa-se Koeman de mudar constantemente a equipa, como se ele fosse responsável pelas lesões e castigos ou pela chegada de uma mini-enxurrada de reforços em Dezembro, anunciados pela Direcção como o suplemento que faltava para a conquista da Liga dos Campeões e que ele, logicamente, tinha de experimentar e utilizar. E esquecendo-se até de que foi uma dessas inesperadas «revoluções» na formação da equipa que conduziu à também inesperada vitória contra o Manchester. Até se acusa Koeman de já ter experimentado quatro guarda-redes, como se fosse ele o culpado pelas lesões de Quim e de Moreira, pela manifesta impreparação de Nereu, ou pela «épica» contratação de Moretto, delirantemente saudada pela massa associativa e afins.

Embora não me motive muito perceber o que se passa em casa alheia, a mim parece-me que, mais prosaicamente, a questão das esperanças traídas no Benfica tem sobretudo a ver com a ilusão criada sobre o valor real da equipa. Tudo começou na época passada, com um Campeonato e uma Taça ganhos de forma que foi tudo menos convincente mas que, por temor ou reverência, ninguém se atreveu a questionar. Por isso, quando Luís Filipe Vieira disse que esta era uma equipa de campeões, toda a gente fingiu que sim, e, quando, reforços acrescentados, ele passou a dizer que esta era uma equipa capaz de chegar à final e talvez ganhar a Champions, continuaram todos a fingir que acreditavam. Depois, houve a vitória sobre o Manchester e a série de sete triunfos consecutivos na Liga portuguesa e foi ver o José Veiga, de peito feito, a anunciar a inevitável revalidação do título e a Europa ao virar da esquina. Mas ninguém se deteve a pensar quantos, desses sete jogos, foram ganhos sem dúvidas de arbitragem e através de exibições convincentes, porque é um crime de lesa-majestade questionar o mérito dos triunfos benfiquistas. E assim se criou a verdade oficial de que estava aí um grande Benfica, que nada nem ninguém conseguiriam parar. Agora, três súbitas derrotas depois, cai-se no extremo oposto. E na pior altura, quando a equipa mais precisava da confiança dos seus. Mas, se entre hoje e domingo, tudo correr mal para os benfiquistas, é certo e sabido que quem semeou os ventos de ilusão não colherá as tempestades de desilusão. Isso está guardado para um bode expiatório mais conveniente.

2. O Benfica jogava em Guimarães sob o peso de ter três jogadores ameaçados de não poderem defrontar o FC Porto caso vissem um cartão amarelo. Lucílio Baptista foi a escolha adequada para a ocasião (mas digo desde já que nenhum daqueles três mereceu um amarelo). Mas, no resto, Lucílio não deixou os seus predicados por mãos alheias: num jogo sem dureza nem indisciplina, com faltas distribuídas por igual por ambas as equipas, Lucílio Batista conseguiu marcar o dobro de faltas ao Vitória, deixando inúmeras por assinalar contra o Benfica, e mostrar sete cartões amarelos a jogadores do Guimarães contra apenas um aos benfiquistas.

3. E, a propósito do «Apito Dourado », essa mega investigação judicial, que parece ter o condão de vir a arrastar-se durante anos, tornando alguns eternamente suspeitos (ou até mesmo já condenados, a quem isso convém) e outros estranhamente imunes às suspeitas, aguardei com alguma curiosidade o despacho de pronúncia, no que se refere ao presidente do FC Porto. Mas, afinal e como aqui antecipei desde o início, a montanha pariu um rato, ou pior ainda, pariu a insustentável continuação das suspeitas por confirmar. Mais de um ano de investigações decorrido, depois daquele imenso aparato policial-mediático para ouvir o «suspeitíssimo» Pinto da Costa, depois de dezenas ou centenas de milhares de contos gastos aos contribuintes, depois de não sei quantas prorrogações de prazo a favor do Ministério Público, depois do reforço extraordinário dos meios de investigação, a «task force» judicial de Gondomar conclui apenas em extrair certidões do processo para que outros continuem a investigar Pinto da Costa. E, quanto a factos novos, indícios novos, provas recolhidas, nada. A suspeita «gravíssima» mantém-se rigorosamente a mesma de há um ano atrás: em 2004, o FC Porto de José Mourinho, já virtual campeão nacional, com alguns onze pontos de avanço sobre o segundo classificado, o Benfica, a semanas de se tornar campeão europeu, terá subornado, com recurso a «meninas» o árbitro do encontro no Dragão contra o E. Amadora, em vias de despromoção, como forma de garantir a vitória no jogo — parece que, de outra maneira, não conseguiriam ganhar. E é nisto que se gasta o tempo e o dinheiro dos contribuintes: não fazendo justiça, mas mantendo eternas as suspeitas que a tantos convém. Mas também a verdade é que, à luz do que está em causa—e é apenas isto— só acredita, ou finge acreditar, quem quer.

4. E, pé ante pé, o Sporting está a cinco pontos do FC Porto e poderá ficar a dois se, domingo na Luz, a equipa de Adriaanse falhar mais uma vez num jogo decisivo. Dou-me conta, já há um tempo, que muito pouco ou quase nada tenho escrito sobre o Sporting esta época. A razão é simples e vai parecer escandalosa aos olhos dos indefectíveis sportinguistas, mas acarreto as consequências de porventura vir a ter de engolir o que vou escrever: não vejo que o Sporting tenha futebol para ser campeão nacional, esta época.

Estão em segundo lugar, já só a cinco pontos e ainda vão receber o FC Porto em Alvalade? Pois, é facto. Mas, mesmo assim, não me convencem. Ainda esta semana o que vi, contra o Paços de Ferreira e em Alvalade, foi uma equipa que chegou ao golo num penalty duvidoso e caído dos céus, que dele viveu toda a segunda parte, sem criar uma só oportunidade de golo e que, já próximo do final, marcou o segundo golo numa jogada precedida de falta e ainda um terceiro depois da hora. Um 3-0 absolutamente enganador, num jogo que não mereceu sequer ganhar. Como disse, é possível que ainda tenha de engolir esta opinião. Mas, se isso acontecer, é porque o FC Porto entregou o ouro ao bandido.»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (22/02/2006)

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Mais três pontos, mais uma exibição «fraquinha»


FC Porto  1   -   0  Marítimo


Mais um jogo pouco conseguido no Dragão, apesar da vitória, onde a equipa do FC Porto se mostrou mais uma vez pouco consistente e atrapalhada valendo apenas pelo golaço de Raúl Meireles.

Co Adriaanse voltou a apostar de novo no 3-3-4 e não foi por aí que surgiram as dificuldades. Bruno Alves rendeu Pepe, castigado, e arrancou uma boa exibição calando assim os mais críticos da sua entrada na equipa inicial. Foi uma boa surpresa. Pedro Emanuel lá se desenrascou na esquerda, por vezes «esquecido» por Ivanildo e Bosingwa na direita cometeu dois ou três erros infantis que só não deram para o torto pela azelhice dos maritimistas ou porque Hélton estava no sitio certo à hora certa.

No meio campo, o costume. Assunção esteve enorme mais uma vez, Raúl Meireles correu muito e contribuiu com o golo decisivo enquanto Lucho esteve bem, embora ainda longe das suas melhores exibições. Quanto a mim o problema do meio-campo prendeu-se com a pouca ajuda dada pelos «alas» de serviço obrigando os centro-campistas a cobrir mais o terreno em vez de atacar.

A frente de ataque era composta por Adriano e McCarthy (que merecia um golo pela boa exibição) apoiados nas alas por Ivanildo e Alan que fizeram um mau jogo condicionando toda a estratégia da equipa. Ivanildo não conseguiu ultrapassar a defesa maritimista nem criar desiquilibrios e Alan conseguiu desperdiçar duas ocasiões soberanas que dariam concerteza outro desfecho ao jogo. Além de não conseguir atacar em condições, também não defenderam convenientemente criando problemas nos sectores mais recuados, obrigados a compensar as falhas defensivas.

O Marítimo no segundo tempo foi bem mais atrevido e só não conseguiu chegar ao golo porque Hélton fez duas defesas «impossíveis». Na retina fica ainda uma finta do guarda-redes brasileiro sobre o avançado do Marítimo que, depois do golo de Raúl Meireles, foi o momento mais aplaudido da noite.

No final, valeram os três pontos apesar da qualidade da exibição que não justificou os apupos vindos dos adeptos que ou estavam calado ou assobiavam a equipa. Amigos, para fazerem isso mais vale ficarem em casa. Foi ridículo que durante os primeiros 20 minutos, altura em que os SuperDragões se encontravam em silêncio por protesto com a SAD, que não se tenha ouvido os adeptos a incentivar a equipa. A única altura em que se ouviram foi para assobiar nos lances que correram menos bem. Podemos criticar a equipa mas nunca durante o jogo, isso só moraliza o adversário.

Aguardo com grande expectativa o encontro do próximo fim-de-semana. Temos a possibilidade de «empurrar» o Benfica para 11 pontos de distância e, no mínimo, manter a vantagem de 5 pontos para o Sporting. Esta equipa não se dá muito bem com a pressão, será desta?


Mais e Menos

+ Hélton Duas intervenções valeram os três pontos. A baliza está bem entregue.

+ Bruno Alves Tenho de dar a mão à palmatória, boa exibição do central. Cortou tudo o que tinha a cortar e não viu sequer um amarelo.

+ McCarthy Boa exibição. Aquele remate ao poste merecia melhor sorte.

- Alan e Ivanildo Estiveram muito mal os alas esta noite.

- Adeptos no Dragão É incompreensível que passem o tempo todo a assobiar a equipa. O Dragão está a tornar-se numa sala de cinema onde os espectadores com as pipocas na mão assobiam quando a história não lhes agrada.


Declarações

Co Adriaanse (FC Porto)

«A nossa posição é muito, muito boa. Temos oito pontos de diferença sobre o Benfica, cinco sobre o Sporting. Jogar no estádio da Luz é sempre especial, é um clássico, que queremos ganhar também. Vamos ver o que acontece na próxima semana».

Raúl Meireles (FC Porto)

«O mais importante foram os três pontos, mas fico muito feliz com o meu golo. Agora temos de olhar para a frente e tentar continuar a amealhar mais pontos para chegarmos ao título. Como foi a história do cartão vermelho e penalty que primeiro eram e depois já não eram? O árbitro entendeu à primeira que era penalty, depois o fiscal de linha deu indicação que não, mas isso é uma questão que tem a ver com os árbitros e que não vou comentar. Na altura foi um bocado complicado. Era uma grande penalidade, podia ser o segundo golo e de repente foi tudo anulado, mas ganhámos e isso foi o mais importante».


Ficha do Jogo

Liga 2005/06 (23ª jornada)

Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 31.116 espectadores

Árbitro: Carlos Xistra (Castelo Branco)
Assistentes: Luís Castainça e Nuno Manso
4º árbitro: Ângelo Correia

F.C. PORTO: Helton; Bosingwa, Bruno Alves e Pedro Emanuel «cap.»; Paulo Assunção; Alan, Lucho Gonzalez, Raul Meireles e Ivanildo; Adriano e McCarthy
Substituições: Alan por Lisandro Lopez (59m), Adriano por Jorginho (66m) e Ivanildo por Hugo Almeida (82m)
Não utilizados: Vítor Baía, Ricardo Costa, Ibson e Cech
Treinador: Co Adriaanse

MARÍTIMO: Marcos; Briguel «cap.», Fernando, Valnei e Evaldo; Willians, Mancuso e Wenio; Caíco; Zé Carlos e Kanu
Substituições: Caíco por Rincon (76m) e Mancuso por Filipe Oliveira (76m)
Não utilizados: Nélson, Ferreira, Miklos Gaal, Jardel e Ali
Treinador: Paulo Bonamigo

Ao intervalo: 1-0
Marcadores: Raul Meireles (21m)
Disciplina: Cartão amarelo a Willians (10m), Raul Meireles (40m), Valnei (51m) e Paulo Assunção (56m)

* Fotos AP (Associated Press)

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

MST: Regresso à normalidade

«1. A jornada 22 do campeonato veio repor a hierarquia habitual do nosso futebol, deixando os três grandes lá em cima, ordenados pela respectiva ordem de grandeza (isto é uma piada a benfiquistas e sportinguistas...). Jogando muito pouco e marcando em dois livres, o Sporting desembaraçou-se naturalmente de um Vitória de Setúbal que, depois do raide benfiquista às suas fileiras, consentido e promovido pelo inesquecível Chumbita Nunes, entrou em queda vertical. Jogando mais que o habitual e com menos azar e revoluções estratégicas que o costume, também o FC Porto cumpriu a sua obrigação de vencer um Belenenses que é uma equipa cuja permanência mais ou menos tranquila na primeira divisão só por si demonstra como é fraca a nossa Liga. E, jogando em casa contra o já condenado Penafiel, o Benfica ganhou também sem problemas de maior, muito embora o resultado seja francamente desproporcionado face ao que se passou e bem pudesse ter sido dispensado aquele terceiro golo, que deve ficar como exemplo extremo daquilo que o futebol não pode ser (tivesse sido o Penafiel, ou qualquer outro adversário, a marcar assim e o Estádio da Luz vinha abaixo). Cabe, entretanto, uma palavra de elogio ao presidente do Penafiel, o antigo e excepcional jogador António Oliveira, que assumiu tranquilamente a mais que provável inevitabilidade da descida, evitando a saída fácil de despedir o treinador, as loucuras de contratações que depois não poderiam ser sustentadas na Liga de Honra, e evitando também o recurso habitual de atirar para cima das arbitragens a responsabilidade pelo inêxito. Até porque, como ele diz, há mais honra em descer à Honra sem dever nada a ninguém que em ficar na Betandwin devendo dinheiro a todos. Recado entregue a muita gente com orelhas a arder. No grupo imediatamente abaixo os resultados da jornada foram diferentes. Enquanto o Boavista somou a quinta vitória consecutiva e já só está a um ponto da zona europeia, confirmando os créditos de Carlos Brito, já o Sp. Braga, mesmo jogando em casa e contra 10 durante meia hora, perdeu dois pontos, que não chegam para compensar o ponto que tão injusta e falsamente conquistara uma semana antes, no Dragão. Tendo vendido quase toda a defesa no defeso de Natal, parece inevitável que tenha iniciado uma curva descendente, que, a consumar-se, será de difícil travagem e difícil digestão. Enfim, o Nacional sucumbiu com aparato, após uma terrível semana passada entre Alvalade e a Luz, com apenas um golo sofrido em 220 minutos de jogo!

2. A derrota do Nacional na Luz, nos penalties, e a derrota ao cair do pano do Paredes em Alvalade fazem-me lembrar a remodelação que há muito defendo no injustíssimo regulamento da Taça de Portugal. Defendo a introdução de um sistema duplo: primeiro com discriminação positiva a favor dos mais fracos; e depois, já no final, com igualitarização dos quatro semifinalistas. Assim: até às meias-finais as eliminatórias, a um só jogo, seriam sempre no terreno do clube de divisão inferior ou, sendo ambos da mesma divisão, no terreno daquele que, no momento do sorteio, estivesse mais mal classificadono respectivo campeonato. Quanto às meias-finais, seriam jogadas a duas mãos. Isto permitiria, por um lado, descentralizar e democratizar a Taça, levando-a, regularmente e não excepcionalmente, a lugares onde o grande futebol não chega, e, simultaneamente, dar mais interesse desportivo e mais emoção à competição e, eventualmente até, melhores receitas aos clubes. Por outro lado, o facto de as meias-finais serem a duas mãos daria mais verdade desportiva ao desfecho e mais mérito aos finalistas do Jamor, para além de reintroduzir, ao menos por uma eliminatória, o sistema de eliminação a duas mãos, que actualmente, e com grande saudade minha, não existe em competição alguma. Este sistema tornaria impossível, por exemplo, voltar a suceder aquilo que sucedeu ao Benfica há dois anos, quando a sorte nos sucessivos sorteios o levou até à final sem nunca ter saído da Luz (e até a final foi jogada no seu campo de treinos habitual, o Estádio Nacional, e, visto o outro finalista ser o FC Porto, escolheu-se para árbitro Lucílio Baptista, que actuou conforme a expectativa). Seguramente que, de todos os troféus arrecadados no Estádio da Luz, este foi aquele cuja conquista menos mérito teve.

3. Não tivesse eu visto na televisão o Inter-Juventus e teria acreditado nas patrióticas descrições dos correspondentes da nossa imprensa desportiva, que fizeram de Figo o «autor de meio golo» e senhor de uma notável exibição, a destoar de todos os outros da equipa. Não vi nada disso, vi que o Inter não jogou nada e Figo teve um ou outro fogacho inconsequente e marcou um canto banal a que o seu colega Walter Samuel correspondeu com um cabeceamento superior — o tal meio golo de Figo. Este patrioteirismo jornalístico, que leva a escrever coisas como «o treinador do Milan optou por fazer descansar Rui Costa», quando ele simplesmente optou por deixá-lo no banco de suplentes, não ajuda a termos verdadeira compreensão do que se passa e até talvez, em alguns casos, tenha contribuído para dar aos nossos candidatos a emigrantes futebolísticos uma falsa impressão de facilidades de triunfar lá fora, que depois se transforma em amargas ilusões. Veja-se o sucedido com a legião portuguesa do Dínamo de Moscovo — em que Costinha acaba de ser a última baixa — e cuja imagem deixada por terras da Rússia deve ter assegurado o fim definitivo daquela galinha dos ovos de oiro. E, por falar em emigrantes do futebol, há coisas que dão que pensar. Quantos italianos alinharam de início pelo Inter contra a Juventus? Um. Quantos ingleses alinharam pelo Chelsea contra o Liverpool? Um. Quantos portugueses alinharam de início pelo Benfica contra o Penafiel? Dois. O capital não tem pátria, o futebol também não. Nós, os espectadores, é que nos esforçamos por fingir que não vemos.

P. S. — Manuel Fernandes, Marcel e Simão estão em risco: se levarem mais um amarelo não jogam contra o FC Porto, na Luz. Vamos ficar muito atentos à arbitragem do V. Guimarães-Benfica.»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (14/02/2006)

domingo, fevereiro 12, 2006

Adriano x2


Belenenses  0   -   2  FCP


Este era um jogo decisivo no que respeita à afirmação da equipa do FC Porto nesta segunda volta do campeonato: quatro jogos disputados que resultaram em uma vitória (com a Naval em casa), uma derrota (com o Estrela na Reboleira) e dois empates (Braga em casa e Rio Ave fora). Para quem lidera e tenciona ser campeão é pouco, muito pouco.

Adivinhavam-se mudanças na equipa titular, não porque Adriaanse tencionasse mudar o esquema táctico mas porque Pedro Emanuel não iria jogar por estar a cumprir um jogo de castigo pelo 5º amarelo visto no jogo anterior. Marek Cech foi o escolhido para o lado esquerdo da defesa (esteve muito bem), enquanto o resto da equipa foi a mesma que entrou de início na última partida da Liga: Helton, Bosingwa, Pepe, Paulo Assunção, Raúl Meireles, Lucho González (Cap.), Ivanildo, Quaresma, McCarthy e Adriano.

O jogo começou com o Porto a criar logo duas oportunidades flagrantes através de McCarthy. Foi uma entrada de rompante, como já vem habituando esta equipa. O Belenenses cedo começou a demonstrar preocupações defensivas, recuando e deixando as portas abertas ao ataque portista, que durou até cerca dos 25', altura em que os de Belém conseguem subir um pouco no terreno e os portistas perdem aquele fulgor inicial, mas sem nunca deixar de dominar o desafio.

Foi já quase no final da primeira parte que surgiu o primeiro do Porto. Raúl Meireles de primeira mete para Quaresma, que do lado direito centra para a área com a bola a passar por toda a defesa e ir parar aos pés de Adriano, que, ao segundo poste, só teve que encostar. A vantagem conseguida era justa e vinha num momento importante já que estava praticamente esgotado o tempo da primeira parte.

Havia algum receio pela forma como o Porto iria entrar no segundo tempo, muito por culpa das vezes que estava com vantagem e acabava por dividir os pontos, mas desta vez a equipa entrou com garra e determinação em ampliar rapidamente a vantagem. Um remate espetacular de Quaresma aos 35 segundo que levou a bola aos ferros pôs em sentido os azuis do restelo que não continuaram a não conseguir mostrar argumentos para chegar ao golo, muito por culpa também de duas defesas espetaculares de Helton.

Ao minuto 52' aconteceu o momento do jogo: Pepe recupera uma bola no meio campo, finta dois adversários, coloca em McCarthy ao centro e de primeira toca para Quaresma no lado esquerdo que, de trivela, centra para a área naquela zona entre o guarda-rede e os centrais. Mais uma vez a bola passa e acaba por chegar a Adriano que só teve de encostar para fazer o segundo. Com uma vantagem de dois golos, o Porto soube sempre gerir o resultado, nunca abdicando do ataque nem recuando em demasia... estaria a lição da jornada anterior aprendida?

Até final entraram ainda aos 70' Lisandro para o lugar de Quaresma, Diego para o lugar de Ivanildo aos 82' e Hugo Almeida para o lugar de McCarthy já a entrar no período de descontos.

De realçar ainda a exibição do árbitro da partida, o Sr. Elmano Santos que teve um critério a prejudicar sempre o FC Porto, tanto a nível disciplinar como a nivel técnico. Chegou a ser irritante a sua actuação, podendo até dizer-se que ou não sabe mais, ou ia com a lição bem estudada... eu aposto mais na segunda hipótese, mas teve azar porque o Porto desta noite não deu hipótese.


Mais e Menos

+ Adriano Grande jogo premiado com dois golos. Corre que se farta o tempo todo, sempre à procura de espaços na defesa contrária. Começa a entender-se muito bem com McCarthy, que também esteve em bom nível.

+ Pepe O que se pode dizer? Esteve muito bem. É o patrão daquele trio defensivo e ainda conseguiu ir à frente para dar início ao 2º golo. Há poucos meses atrás seriam poucos aqueles que imaginariam um peso tão grande na equipa.

+ Helton Fez duas defesas por instinto. Só a sua presença dá uma confiança tremenda à defesa. Temos sem dúvida a melhor dupla de GR do campeonato: Vitor Baía e Helton.

+ Adriaanse Consegue pôr a equipa a jogar bom futebol se bem que ás vezes pareça demasiado frágil. A sua prova de fogo vem aí...

- Ivanildo Não foi a sua noite, esforçou-se e correu muito mas quase tudo saía mal sobretudo os cruzamentos.

- Elmano Santos Depois de Bruno Paixão, mais um artista a arbitrar jogos do FC Porto. Temos de nos habituar a estas arbitragens porque até final do campeonato vão fazer de tudo para impedir a conquista de mais um título. Já estou a imaginar que será o árbitro do SLB-FCP... Lucilio Baptista?


Declarações

Co Adriaanse (FC Porto)

«Começámos muito bem o jogo, com muitos cruzamentos do Ivanildo e do Quaresma, criámos muitos lances de perigo em frente à baliza do Belenenses e penso que passou demasiado tempo até conseguirmos marcar. Fizemos uma primeira parte muito boa, também estivemos muito bem na segunda e conseguimos dois golos, o Adriano estava no sítio certo para marcar, por duas vezes, e é um verdadeiro goleador. Toda a equipa esteve em bom nível, jogámos bom futebol, rápido, pelos flancos, pelo meio e penso que os espectadores ficaram agradados.»

Sobre os jogos com o Marítimo e o Benfica: «Não penso que sejam decisivos, os próximos jogos. Primeiro temos de receber o Marítimo, no Estádio do Dragão, e vencer. Só depois pensamos no Benfica. Ainda faltam muitos jogos, mas somos o líder e temos oito pontos de vantagem. Isso é bom, para pressionar o Benfica, o Sporting e o Nacional, que têm de vencer os seus jogos amanhã. Contra o Sp. Braga, também jogámos muito bem, mas tivemos azar, sofremos o empate nos últimos minutos, numa grande penalidade que não era. Estou muito satisfeito com a minha equipa.»

Adriano (FC Porto)

«Foi bom para mim, os golos permitem ganhar mais confiança e o entrosamento com o grupo está a melhorar. McCarthy? Procuramos dialogar muito, estar sempre em contacto, para conseguirmos distribuir bem o jogo, fazer tabelas e marcar golos. Era um jogo importante, encaramos o compromisso com seriedade, conseguimos trocar bem a bola e conseguir a vitória.»


Ficha do Jogo

Liga 2005/06 (22ª jornada)
Estádio do Restelo, em Lisboa

Árbitro: Elmano Santos (Funchal)
Assistentes: Sérgio Lacroix e Ricardo Santos
4º árbitro: João Capela

BELENENSES: Pedro Alves, Sousa, Pelé, Rolando e Rui Jorge; Ruben Amorim, Sandro e Silas; Ahamada, Meyong e Fábio Januário;
Substituições: Fábio Januário por Romeu (54m), Meyong por Dady (70m) e Ahamada por Paulo Sérgio (79m)
Não utilizados: Marco Aurélio, Rui Ferreira, Gaspar e Djurdjevic
Treinador: José Couceiro

F.C. PORTO: Helton, Bosingwa, Pepe e Cech; Paulo Assunção, Lucho González e Raul Meireles; Quaresma, Adriano, McCarthy e Ivanildo.
Substituições: Quaresma por Lisandro (70m), Ivanildo por Diego (82m) e McCarthy por Hugo Almeida (89m)
Não utilizados: Vítor Baía, Bruno Alves, Ricardo Costa e Ibson
Treinador: Co Adriaanse

Ao intervalo: 1-0
Marcadores: Adriano (43m e 52m)
Disciplina: Cartão amarelo a Pepe (17), Bosingwa (31), Fábio Januário (37m), Quaresma (57m), Paulo Assunção (81m) e Lucho González (89m)

* Fotos AP (Associated Press)

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

MST: De tudo um pouco

«1. Já vi este filme várias vezes: o FC Porto ataca, ataca, ataca, o adversário só defende e, no final, repartem os pontos. Se houvesse justiça no futebol, o FC Porto teria ontem esmagado o Braga por 5-0 ou 6-0. Três bolas nos postes, três defesas maravilhosas de Paulo Santos, três remates de golo ao lado, três jogadas duvidosas na área do Braga. Mas não chegou: mesmo um sistema de jogo maluco — que depende exclusivamente de um super-Pepe para aguentar uma defesa com três homens e um ataque com quatro — não chegou para a vitória. O Braga fez o primeiro remate à baliza do FC Porto exactamente ao minuto 60, permitindo que Helton fizesse enfim, ao fim de três jogos, uma defesa como titular. Depois, Adriaanse deu ordem para recuar, tal como tinha feito contra o Inter, em San Siro, tirando um ponta-de-lança e metendo um defesa-central. E que defesa! — nada menos do que Bruno Alves, um dos autores da vitória do Benfica no Dragão — e que, na sua única intervenção relevante, deu origem ao penalty do empate, provando que não é Pepe quem quer. Aceita-se o penalty, mas, pelo mesmo critério de Bruno Paixão, daí até final, ainda houve tempo para dois lances semelhantes na área do Braga, um sobre Ivanildo, outro sobre Raul Meireles, que, esses, digamos que passaram despercebidos ao senhor de Setúbal, o inesquecível Barão de Campo Maior. E (porque não?), aceitemos também que lhes passou despercebido o offside que esteve na origem do penalty decisivo. Resta o que resta: o «Campeonato está relançado», como se vai escrever hoje, aí por todo o lado. Viva o Campeonato!

2. É óbvio que os Super-Dragões se transformaram num poder paralelo dentro do FC Porto e é óbvio que, se isso aconteceu, foi porque tal lhes foi permitido e estimulado ao mais alto nível: quem semeia ventos colhe tempestades. Mas é também evidente que, à parte as atitudes arruaceiras que são o sinal de marca e a razão de existir das claques organizadas, o que os Super Dragões hoje dizem sobre a vida interna do clube (e não apenas sobre o treinador) é aquilo que o grosso dos adeptos pensa, mas não está organizado para dizer. Daí que, obrigado a ponderar entre os serviços prestados no passado e os danos potenciais do presente, Pinto da Costa tenha optado por os abandonar. Até ver.

3. Uma das coisas que o futebol tem de desconcertante e atraente é a alternância constante das suas verdades. Numa semana é-se bestial, na outra é-se besta. Durante nove jogos consecutivos, o Benfica acumulou vitórias e foi enchendo o estádio, incendiando as esperanças dos seus adeptos e inchando os seus dirigentes: Vieira passou a falar abertamente no título europeu já este ano e Veiga estava de peito feito, ridicularizando os adversários e falando já como inevitável bicampeão nacional. E, de repente, em dois jogos apenas, tudo ruiu: a sequência de vitórias transformou-se em duas derrotas consecutivas, o intransponível Moretto e a defesa de aço encaixaram seis golos em 180 minutos, as fabulosas contratações de Inverno viraram decepção, o regresso tão desejado do capitão Simão Sabrosa acabou por se traduzir em mal disfarçada desconfiança sobre a sua dedicação ao emblema e a sua utilidade na equipa, o FC Porto continuou em primeiro e até aconteceu o impensável, que foi serem alcançados pelo Sporting. E, todavia, se olharmos com atenção, nem uma coisa foi o apogeu, nem a outra o caos. As nove vitórias consecutivas, tirando a do Manchester, nunca foram consequência de grandes exibições ou de flagrante superioridade, mas sim vitórias tangenciais, muitas vezes ditadas pelo acaso ou dúvidas de arbitragem. E se, contra o Sporting, a equipa estranhamente pareceu nem sequer chegar a entrar no jogo, já contra o Leiria, a meu ver, fez uma das suas melhores exibições, com períodos de grande futebol, acabando derrotado pela tremenda eficácia do adversário no contra-ataque. E a verdade é que os seis golos sofridos e tão comentados, quatro foram em contra-ataque, um de penalty e outro num remate de meia-distância: nenhum resultou de ataque organizado e envolvente.

4. Três mil pessoas assistiram ao último treino do Vitória de Guimarães e 17.000 ao seu jogo contra o Belenenses. É simplesmente notável a dedicação dos adeptos vimaranenses a um clube que jamais foi campeão nacional nem esteve nunca à beira de o ser e que hoje é apoiado na esperança de alcançar o mínimo expectável: que a equipa não caia na II Divisão. Agora, a tarefa parece mais difícil do que nunca. Não apenas porque estão a sete pontos da linha-de-água, mas sobretudo porque a equipa não mostra argumentos para ultrapassar a situação. Escrevi-o aqui logo no início da época, e após ver apenas um jogo do Vitória, que me parecia que iam ter grandes dificuldades este ano para se aguentarem na Superliga. Dispensado Jaime Pacheco, renovada a equipa com uma abundância de contratações em Dezembro, parece-me que nada de assinalável mudou. E, ao contrário do que diz o seu actual treinador, Vítor Pontes, a mim parece-me que o problema principal é que o Vitória não mostrou nunca, ao longo deste Campeonato, ter futebol para ficar na Superliga. O jogo contra o Belenenses foi mais um para confirmar esta opinião: defesa em alvoroço permanente, meio-campo sistematicamente a transviar passes, ataque absolutamente sem ideias. Não é uma questão de ir à bruxa, porque não é sério pretender que o Vitória tem azar em todos os jogos. Por mais que a ideia possa custar a assimilar, a verdade é que um histórico do futebol português se prepara para descer aos infernos por exclusiva incompetência própria.

5. Depois de Hernâni e de Calado, mais um jogador do Benfica acusou doping. É claro que é mais um que está inocente — assim como o Kennedy, o Abel Xavier e todos os outros. É mais um caso em que o organismo de um atleta português revela características que a medicina desconhecia. E se todos são inocentes até prova em contrário, já era altura também de todos perceberem que as leis são iguais aqui e no mundo inteiro e que a prova de inocência cabe a quem acusa doping e não a quem controla, e que a forma de o fazer está estabelecida na lei, para vigorar para todos. A explicação da cabala já deu o que tinha a dar.

6. José Mourinho prepara-se para ser campeão de Inglaterra pela segunda vez consecutiva, em dois anos de trabalho. Vence, arrasa e convence. Rebenta com as estatísticas, subverte os recordes, açambarca os prémios. Só há uma coisa que eu, para os meus botões, não consigo explicar: porque é que adormeço sistematicamente a ver o futebol do Chelsea e porque é que acho que o FC Porto de Mourinho (sobretudo o da Taça UEFA) esmagaria este Chelsea de Mourinho? Mas, se uma equipa vence sempre sem entusiasmar, de quem é o mérito das vitórias?»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (07/02/2006)

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Paixão decide


FC Porto  1   -   1  Braga


A noite prometia. O FC Porto na 1ª posição recebia o Sporting de Braga que ocupava a 4ª. Este era um teste de fogo para Adriaanse que tinha sido muito contestado após o empate em Vila do Conde e que procurava aumentar para 7 pontos de vantagem para o 2º classificado. O ambiente estava bom, os adeptos animados, voltou a ouvir-se a celebre corneta nas bancadas e até o hino do FC Porto foi tocado aquando da entrada das equipas, algo que não acontecia há muito tempo.

O jogo começou praticamente com duas oportunidades para o Porto com os ferros a negarem o primeiro golo. Adriaanse manteve-se fiel ao sistema de três defesas com Bosingwa na direita, Pedro Emanuel na esquerda e Pepe no meio. Grande exibição de Pepe, sem dúvida (quem diria) o pilar do trio defensivo. No meio campo jogou Paulo Assunção, que recuava quando o Porto defendia, Raúl Meireles e Lucho, que regressou após duas semanas de recuperação. Na frente estavam Quaresma e Ivanildo nas alas enquanto Adriano e McCarthy jogavam no centro mas sempre com muita mobilidade havendo trocas constantes de posição.

Pode dizer-se que a primeira hora de jogo foi toda do Porto. Conseguiu criar oportunidades de golo suficientes para resolver a partida mas os ferros ou Paulo Santos estavam sempre no caminho. O Braga foi uma desilusão porque não incomodou minimamente Helton que fez a primeira defesa (digna desse nome) aos 60', já o Porto vencia por 1-0 com um golo de Lucho González, a aproveitar bem um ressalto após remate de Adriano.

A partir daí, o Braga tentou ir atrás do prejuízo e subiu no terreno. Irónicamente foi quando o Porto passou a jogar com 4 defesas que o Braga conseguiu chegar ao golo. O Porto recuou em demasia e arriscou muito ao tentar defender o resultado. Bruno Alves, que regressou à equipa após longa ausência, prejudicou claramente a equipa ao «fazer» o penalty que Bruno Paixão assinalou.

Bruno Paixão fez uma boa actuação durante 85' mas depois estragou completamente a exibição. Desde a altura da nomeação que torci o nariz quando soube que era o setubalense a dirigir este jogo, não só pelo seu «historial» com o Porto ou pela importância do jogo mas também pelo que aconteceu na Figueira da Foz e na suspensão de Adriaanse que curiosamente foi «apadrinhado» no regresso por Bruno Paixão. Esta foi uma nomeação (se ainda fosse sorteio...) completamente despropositada. Agora que o jogo acabou e com mais uma polémica para dar que falar durante a semana, fica mais que provado que quem nomeou esteve muito mal e devia responder por isso.

Quanto ao penalty em si, para começar o jogador do Braga estava fora-de-jogo e depois o lance não me parece sequer penalty... e mesmo que fosse, 2 minutos depois aconteceu um em tudo idêntico na área do Braga com uma carga sobre Ivanildo que o árbitro pura e simplesmente ignorou.

Não queria acreditar em sistemas ou árbitros encomendados, mas os últimos 10 minutos de Bruno Paixão prejudicaram ostensivamente o FC Porto. Apesar disso, podíamos ainda ter chegado à vantagem mas mais uma vez Paulo Santos esteve bem ao negar por duas vezes o golo a Bosingwa e Raúl Meireles.

Este empate sabe a derrota mas é uma estupidez criticar o treinador ou os jogadores. Tivemos azar. Devo dizer que foi dos melhores jogos que vi o FCP fazer esta temporada e que a jogar assim podemos ser campeões. Partindo do princípio que não temos mais nenhum jogo arbitrado por um artista do calibre de Bruno Paixão.


Mais e Menos

+ Pepe Quem diria. Foi o pilar da defesa portista. Esteve em todo o lado e fez uma grande exibição.

+ Adriano Teve azar no lance em que atirou ao poste. Esteve sempre inconformado e correu Km's para marcar um golo, ou dar a marcar.

+ Lucho Não fez um grande jogo, mas estava onde era preciso para marcar o golo.

- Bruno Paixão Se a fama junto dos portistas já era grande, depois deste jogo pode ficar uns anos sem ir ao Dragão, tal como aconteceu após Campo Maior...

- Bruno Alves Entrou e fez penalty... acho que foi a única coisa que fez.

- Quaresma Está muito abaixo daquilo que já vimos fazer... precisamos do Quaresma decisivo de há algumas jornadas atrás.


Declarações

Co Adriaanse (FC Porto)

Sobre o jogo: «Há muito tempo que estamos na liderança, praticámos bom futebol, marcámos mais golos do que aqueles que sofremos, por isso somos os melhores. Temos cinco pontos de vantagem e gosto da minha equipa. Fizemos um jogo muito bom. O Sp. Braga também esteve bem, mas fomos mais fortes, pois criámos muitas oportunidades. Sofremos um golo de penalty já no final, mas, mesmo assim, ainda tivemos ocasiões para marcar».

Sobre o esquema de três defesas: «É a minha filosofia e penso que jogámos muito bem. Sofremos o golo quando já tínhamos quatro defesas, por isso, se calhar, devia ter mantido o sistema, mas no futebol nunca se sabe...»

Sobre o incidente da semana passada: «Essas pessoas não apoiam a equipa, não são adeptos verdadeiros, e claro que são coisas que podem acontecer no futebol. Faço o meu trabalho e dou o meu melhor, mas não considero que isso seja o futebol português e já esqueci o que se passou.»


Lucho González (FC Porto)

«Não soubemos controlar o jogo nos últimos minutos e numa jogada desgraçada marcaram penalty. O resultado é injusto, mas temos de continuar. Criámos muitas situações de golo e merecíamos a vitória, mas as vezes o futebol é assim. Temos cinco pontos de vantagem e temos de seguir neste caminho. Grupo é unido, o campeonato é difícil, falta muito mas é importante. Estamos a cinco pontos e não há dúvidas que somos os primeiros. O plantel está bem e temos de seguir trabalhando.»


Ficha do Jogo

Liga 2005/06 (21ª jornada)

Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 39.409 espectadores

Árbitro: Bruno Paixão (Setúbal)
Assistentes: Paulo Ramos e António Godinho
4º árbitro: Rui Costa

F.C. PORTO: Helton; Bosingwa, Pepe e Pedro Emanuel «cap.»; Paulo Assunção; Quaresma, Lucho González, Raul Meireles e Ivanildo; McCarthy e Adriano
Substituições: Adriano por Bruno Alves (78m)
Não utilizados: Vítor Baía, Ibson, Lisandro Lopez, Diego, Cech e Hugo Almeida
Treinador: Co Adriaanse

SP. BRAGA: Paulo Santos; Luís Filipe, Paulo Jorge «cap.», Nem e Carlos Fernandes; Vandinho, Andrés Madrid e Rossato; Davide, João Tomás e Wender
Substituições: Davide por Marinelli (46m), Carlos Fernandes por Cesinha (60m) e Wender por Kim (73m)
Não utilizados: Marco, Castanheira, Kim, Paulo Monteiro e Filipe
Treinador: Jesualdo Ferreira

Ao intervalo: 0-0
Marcadores: Lucho González (54m) e João Tomás (88m, g.p.)
Disciplina: Cartão amarelo a Pepe (34m), Paulo Santos (34m), Wender (56m), João Tomás (64m), Quaresma (72m), Luís Filipe (75m), Pedro Emanuel (80m) e Paulo Assunção (90m)

* Fotos AP (Associated Press)

domingo, fevereiro 05, 2006

Tudo na mesma

Após alguns dias de ausência, são poucas as novidades no nosso pequeno mundo da bola.

- O Benfica perdeu outra vez por 3-1, afinal ainda não é esta semana que passa para 1º não é Sr. Zé?

- Adriaanse, pelo que se lê, vai jogar com o Braga no mesmo sistema inócuo de 3 defesas e 4 avançados, o problema é que o Braga não é o Rio Ave.

- Foi uma vez mais perdoada a expulsão ao Petit.

- O treinador portista regressa ao banco de suplentes cumpridos que estão os dois jogos de suspensão. O curioso é que Bruno Paixão, o árbitro que «acolhe» o regresso do holandês, é o mesmo que o «suspendeu» no jogo contra a Naval há apenas duas semanas atrás... há cada coincidência!

- Nuno Assis foi apanhado nas malhas do doping. Nuno Gomes bem tentou avisar aquando do jogo em Braga nas ninguém lhe ligou... e ainda pagou 450 euros de multa!

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

MST: À deriva

«1. Infelizmente os vândalos de que fala a direcção do FC Porto existem. Existem em todas as áreas, existem no futebol e existem em todos os clubes. Podem atacar em Touriz ou em Vila do Conde, à facada ou à pedrada. O que os torna particularmente notados no futebol é que o futebol é um movimento de multidões e as multidões são cobardes e primárias. Cada vez são menos os que, por maior que seja a sua paixão clubista, até mesmo irracional, não cedem ao ódio, à bestialidade ou à ordinarice. Os que preferem o espectáculo ao resultado, o relvado aos bastidores, o seu clube honrado do que o seu clube vencedor.

Os assaltantes do treinador portista Co Adriaanse, anteontem em Vila do Conde, fazem parte do número daqueles que deveriam ser para sempre banidos do futebol — ou do que eles imaginam que o futebol seja. Além do mais desonraram o FC Porto e criaram um incidente que vem retirar força ao sentimento com que hoje se identifica uma larga maioria de adeptos.

Numa sociedade civilizada e democrática, de homens livres e não de cobardes, há outra maneira de discordar ou de emitir as suas opiniões: é dizê-las tranquilamente, sem ofensas nem insultos, e depois assinar por baixo.

2. Co Adriaanse transformou-se no problema central do FC Porto, num factor de divisão entre direcção e adeptos e num motivo de irritação surda e crescente que acabará por afastar os portistas do Dragão. Por ele e pelo que aconteceu antes dele.

Há pouco mais de ano e meio o FC Porto encerrava a época de 2003/04 talvez como a melhor época da sua vida: campeão europeu em título, admirado pelo mundo inteiro, com um estádio novo espectacular, uma situação financeira que lhe teria permitido o gesto impensável de pôr o passivo a zeros e recomeçar aos poucos a reconstruir uma grande equipa. Se tivesse saído na altura Pinto da Costa teria tido direito a uma estátua de fazer inveja ao defunto Kim Il-sung. Mas preferiu ficar e continuar, chamando a si, como é normal, a responsabilidade da sucessão de Mourinho e de provar que os êxitos não se deveram exclusivamente ao treinador. Um ano e meio depois o balanço é devastador: viu-se envolvido, mal ou bem, na provação do Apito Dourado, viu o clube incapaz, na época seguinte, de defender com brio o título europeu e de nem sequer ser capaz de conquistar o título nacional mais fácil das últimas décadas, tendo visto este ano a equipa nem ao menos garantir o terceiro lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões. No novo estádio, onde Mourinho só consentira um empate com o Corunha, viu o FC Porto perder com o Benfica, o Sp. Braga, o Boavista, o Artmedia, etc., não esquecendo os 4-0 do Nacional. Já vai no quarto treinador experimentado e em cerca de 30 novos jogadores contratados em duas épocas e, logicamente, com tal política, e apesar dos larguíssimos milhões recolhidos em transferências irrepetíveis, viu as contas regressarem ao vermelho e tem hoje uma equipa mais cara que a que foi campeã da Europa. O que resta de positivo? Vai à frente do campeonato, com quatro pontos de avanço. Pois sim, mas...

Para começar, não é grande proeza ir à frente do campeonato. O campeonato é o que resta, depois da indecente despedida prematura da Europa, pela primeira vez em 12 anos e com os consequentes prejuízos financeiros. Depois, é o mínimo exigível a quem tem um orçamento para o futebol que é 50% superior a um dos rivais e 100% superior ao do outro. Além de que é uma liderança que tem tudo para ser provisória. Empatou em casa com o Sporting e perdeu com o Benfica — o que terá consequências em caso de desempate. E, das quatro deslocações a Lisboa, já perdeu a primeira e faltam-lhe as mais difíceis. Enfim, e sobretudo, tem um problema chamado Co Adriaanse, em quem neste momento ninguém é capaz de apostar um chavo sobre a sua capacidade de levar a equipa ao título e de regresso à lista dos grandes da Europa.

De início, como se recordarão os meus leitores habituais, fiquei entusiasmado com o futebol exibido pela equipa treinada por Adriaanse: o jogo era espectacular, era aberto, ofensivo, entusiasmante. A única dúvida que manifestei era a de saber se a equipa conseguiria manter aquele ritmo ao longo da época e se acumularia o espectáculo com os resultados, visto que a defesa me parecia bem vulnerável. O resto foram dúvidas pontuais: se o Postiga seria mesmo um número 10 e se não haveria melhor ocupação para o Quaresma que o banco de suplentes. Mas, no essencial, dei a Adriaanse bem mais que o benefício da dúvida. Comecei a oscilar na minha crença depois das derrotas na Liga dos Campeões — com o Rangers, com o Artmedia e com o Inter — , todas elas com uma flagrante dose de responsabilidade por parte do treinador. E mudei de campo de vez quando vi a forma quase científica como ele preparou a derrota com o Benfica. Depois disso, e tal como o grosso dos adeptos e a totalidade dos observadores, limitei-me a ir constatando o total desnorte para que caminhava Adriaanse. Desnorte na forma desastrada e desrespeitosa com que trata jogadores que são símbolos do clube e que lhe deveriam ser essenciais na gestão humana da equipa; desnorte na forma como insiste semanas a fio em jogadores sem capacidade para a primeira equipa, para depois, sem aviso algum, os votar ao total esquecimento; desnorte na forma como tira da equipa, sem justificação compreensível, jogadores que acabaram de fazer um grande jogo e, inversamente, insiste noutros que ninguém percebe porque lá estão; desnorte na preparação dos jogos mais complicados, em que parece nunca saber o que esperar do adversário; desnorte, enfim, no sistema de jogo, que já foi 4x3x3, 4x2x4, 3x4x3 ou 3x3x4. Se alguma palavra pode definir este percurso errático de Co Adriaanse nestes sete meses que leva à frente do FC Porto, é essa: desnorte. Ninguém sabe para onde vai, ninguém sabe se ele sabe para onde vai.

Entretanto, desmantelou por completo a equipa campeã da Europa (não resta um único a titular!), transformou aquilo numa escola de samba com dois argentinos para disfarçar, não consegue mostrar nenhum estilo de jogo nem jogadas rotinadas no ataque ou nas bolas paradas (e só faz treinos à porta fechada!) e, por mais avançados com que jogue ou que experimente, vive miseravelmente dependente da inspiração de Ricardo Quaresma para conseguir chegar a uns golitos de vez em quando. Quanto ao futebol-espectáculo do início da época, bom, só resta mesmo a breve memória de uma coisa que se tornou confrangedora. Pelo que Pinto da Costa tem aqui um sério problema, agravado, ainda por cima, por aquela sua bravata de ter prorrogado o contrato de Adriaanse antes que ele tivesse dado provas de competência. Agora, despedi-lo e aos seus é coisa para custar uns dois ou três milhões de euros—além do reconhecimento público de que, pela quarta vez consecutiva, se voltou a enganar na principal das suas atribuições. Não o despedir é assistir conformado a episódios como o do Jorge Costa e o do Baía (e tentar desviar as atenções com ridículos episódios de desprestigiante guerrilha com José Veiga), é ver talentos em crescimento a serem desperdiçados, mais e mais jogadores a serem contratados, na esperança vã de fazer daquele agrupamento um arremedo de equipa ganhadora, e ter de assobiar para o ar para também ele fingir que não vê os lenços brancos que vão varrendo o coração dos adeptos... antes que, em lugar de lenços brancos, haja cada vez mais e mais lugares desertos nas bancadas do Dragão.
No lugar de Pinto da Costa, tudo ponderado, eu sei o que fazia: despedia-o. Porque já deu para ver que não vale a pena esperar por um milagre. Co Adriaanse simplesmente não serve para o lugar.

3. Também na Luz, este fim-de-semana, se escreveu um capítulo desta mesma história: a arrogância só é perdoável quando é sustentada no mérito por todos reconhecido. De outro modo é apenas a jactância dos que se imaginam grandes (e não me refiro a Ronald Koeman, um senhor, tanto nas vitórias como nas derrotas).»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (31/01/2006)