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quarta-feira, dezembro 14, 2005

A dignidade de Jorge Costa

1. Há um argumento de ferro por detrás do direito moral que o Benfica tem de exigir ao FC Porto absoluto respeito pela verdade desportiva no dossiê Maciel: na época passada é possível que o seu director-geral tenha permitido ao Estoril a utilização de uma equipa inteira. Do seu bolso. Duas vezes. E ambas na condição de benemérito anónimo. Guarda-redes, defesas, médios e avançados; todos jogaram contra o Benfica. Só não pôde emprestar o campo porque a bondade de um homem tem limites.

2. Ainda assim, os regulamentos da Liga obrigam os clubes a jogar nos estádios que designaram aquando da inscrição, "sem prejuízo de, em circunstâncias especiais e de força maior, ser autorizado ou obrigado" a jogar noutro sítio. Era o caso, a avaliar pelo que Cunha Leal não fez e podia ter feito ou, pelo menos, que não perguntou e podia ter perguntado. O Estoril precisava desesperadamente de dinheiro e como, para a Liga, não há força maior nem circunstância mais especial do que essa, a troco de dinheiro vendeu, com toda a legitimidade (disse-se), uma parcela das hipóteses que tinha de discutir o resultado com o Benfica, na etapa decisiva do campeonato e não noutra qualquer.

3. Depois do jogo, o adjunto do treinador do Estoril, Carlos Xavier, acusou o director-geral do Benfica de ter despedido logo ali o seu chefe de equipa, do qual, segundo a lei, ele não podia ser patrão. Dois meses mais tarde, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, encerrou um processo já longo declarando "falta de transparência" na alienação das acções de José Veiga a duas sociedades estrangeiras. Acompanhando o processo, O JOGO bateu à porta da sede de uma delas, em Londres. No quarto andar do número 33 de Cavendish Square nunca se ouvira falar nem das empresas, nem de Estoril, nem de Veiga. A CMVM queixara-se do mesmo: escrevera cartas, mandara faxes e nada.

4. Verdade desportiva? Falou-se, escreveu-se e disparatou-se muito sobre ambas há uns anos, quando Jorge Costa marcou um golo na própria baliza, durante um jogo entre o Marítimo e o FC Porto, estando ele emprestado aos madeirenses. O mesmo Jorge Costa que nestes últimos meses sofreu uma milagrosa melhoria de carácter - de acordo com a Imprensa que se especializou no carácter das pessoas -, na altura ainda não era tão bem visto, pelo que não faltou quem lhe questionasse a dignidade. Exactamente: a dignidade. A tal que se tornou evidente e inquestionável para tantos comentadores com insuficiência de fósforo logo que ele falou em sair do FC Porto.

José Manuel Ribeiro in O Jogo

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