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terça-feira, março 28, 2006

MST: O Sporting Club Calimero

«1. Nunca assisti, e seguramente nunca irei assistir em dias da minha vida, a um jogo em que o Sporting perca e a culpa não seja do árbitro. Sucedem-se os presidentes, os dirigentes, os treinadores e os jogadores, e a culpa dos maus resultados nunca é deles, mas sempre dos árbitros. Já faz parte da cultura sportinguista, está de tal maneira entranhado naquelas almas que já nem se dão conta das figuras ridículas, às vezes mesmo patéticas, que fazem. A única vez, nos últimos anos, que alguém desafinou na orquestra caíram-lhe todos em cima indignados. Foi quando Filipe Soares Franco se lembrou de dizer o que toda a gente, menos os sportinguistas, tinham visto: que, no derby lisboeta do ano passado, não foi o Luisão que fez falta sobre o Ricardo, mas o Ricardo que saiu em falso a uma bola alta — coisa que não é assim tão rara. Agora, a propósito do jogo da Taça com o FC Porto, lá veio o Ricardo dizer que só não ganharam porque «não nos deixaram ganhar ». O árbitro, pois claro. Até podia ser que fosse verdade que o árbitro os tivesse prejudicado, mas nem assim isso teria impedido que o Sporting pudesse ter ganho, bastando para tal que tivesse jogado mais ao ataque e não apenas no sistema Liedson resolve, que parece ser o único que conhece; ou que tivesse procurado e criado mais oportunidades de golo, em lugar de se limitar a esperar por um erro do adversário, conforme sucedeu; ou, mais simples ainda, que o João Moutinho tivesse convertido o penalty que o Baía defendeu ou que o próprio Ricardo tivesse conseguido defender apenas um dos cinco penalties convertidos pelos portistas. Mas não: a verdade fica melhor servida se se disser que foi o árbitro que não os deixou ganhar.

E, então, o que fez de tão terrível o árbitro, Olegário Benquerença? Não assinalou umcanto a favor do FC Porto na primeira parte e uma favor do Sporting na segunda; deixou passar um lance duvidoso do Tonel sobre o McCarthy na área sportinguista, que eu não acho que tivesse sido suficiente para penalty, mas que, ao contrário não deixaria de ter sido reclamado como tal pelos sportinguistas; deixou passar uma mão do Pepe que seria penalty, se de facto ocorreu dentro da área, mas que é precedida imediatamente de uma falta do Polga sobre o McCarthy, que permite lançar o contra-ataque; mostrou e bem o segundo amarelo ao Caneira, quando ele, já tudo sanado, resolveu ir meter-se numa discussão entre o Rodrigo Tello e o Raul Meireles, tendo todos logicamente visto o cartão; e expulsou o Bosingwa por uma falta que ele não cometeu. Eis tudo. É preciso lata, descaramento e total falta de desportivismo para vir dizer no fim que foi o árbitro que não os deixou ganhar. A obsessão pelos árbitros é tamanha, entre as gentes do Sporting, que, ainda o jogo da Taça mal tinha acabado e já os dirigentes sportinguistas se estavam a queixar do próximo árbitro, para o jogo do campeonato, em casa e contra o pobre Penafiel! Faz-me lembrar a anedota daquele anarquista que a cada país que chegava perguntava: «Há governo? Se há, eu sou contra.»

2. Quando me acusam de ser um portista faccioso, eu rio-me por dentro. É que eu, pelo menos, não escondo que sou portista e é nessa exclusiva qualidade que aqui escrevo. Mas o que dizer dos supostos imparciais e independentes que também escreveram que o Sporting tinha justas reclamações da arbitragem de Olegário Benquerença? Eu, pelo menos, reconheço que o jogo não valeu nada, o Porto não jogou nada e, mais uma vez, Adriaanse demonstrou uma total falta de ideias e de estratégia para ser capaz de ganhar um jogo importante. Mas eles acaso viram um Sporting dominador, a jogar bem, a criar oportunidades e a não ganhar por culpa do árbitro? Porquê que aos protagonistas do FC Porto nunca ninguém se lembra de perguntar se têm queixas da arbitragem e aos do Sporting são todos questionados sobre isso: o presidente, o vice-presidente, o candidato a presidente, o director do futebol, o adjunto, o treinador e os jogadores, só faltando omassagista e o roupeiro? Porquê que, quando eles se queixam que ficou um penalty por marcar, ninguém tem coragem de lhes lembrar que a jogada começa numa falta que ficou por marcar contra o Sporting? Porquê que, quando o Ricardo diz que não ganharam porque não os deixaram, ninguém tem coragem de lhe dizer que se ele tivesse conseguido defender um dos penalties, como o Baía fez, podiam ter ganho? Porquê que quando o Paulo Bento tem o desplante de se queixar da inferioridade numérica, ninguém se atreve a lembrar-lhe que ela durou exactamente um minuto de jogo jogado?

E o que dizer da miserável história inventada pelo Record da bola supostamente atirada pelo Baía à cara do Ricardo? Olhem bem para a fotografia: vê-se a mão do Baía em posição de quem acabou de lançar a bola devagar na vertical para que o Ricardo a agarre tranquilamente; e vê-se o Ricardo de braços caídos e a desviar a cara. Das duas, uma: ou o Ricardo não tem reflexos para agarrar uma bola que qualquer criança agarraria e então não se percebe que seja um guarda-redes tão extraordinário como dizem que é, ou então fez de propósito para fazer passar por agressão o que só com toda amá-fé do mundo pode ser visto como tal. Mas, pelos vistos, houve quem quisesse ver isso mesmo. É gente que, do futebol só gosta de inventar casos e suspeitas e suscitar lamúrias e queixumes de maus perdedores. É a gente que tem dado cabo do futebol português. Ainda bem que eu nunca serei presidente do FC Porto. É que se o fosse, acho que um dia acabava por perder a paciência e retirava a equipa das competições. Deixava os cavalheiros e os regeneradores a falar sozinhos e a dividirem entre si os campeonatos, como nos tempos do antigamente, de que eles têm tantas saudades.

3. E assim, estudadamente, vai-se preparando o ambiente para o Sporting-Porto de 8 de Abril. Vai-se preparando o ambiente propício à nomeação de um Lucílio Baptista ou semelhante. Há duas coisas que eu seria capaz de apostar acerca desse Sporting-Porto que aí vem: uma, é que o FC Porto não vai acabar o jogo com onze jogadores; outra é que, se o Sporting não ganhar, todo o seu povo vai atribuir as culpas ao árbitro.

Na Luz, depois de perder com o Benfica, ouvi Co Adriaanse dizer uma coisa, com a qual nem sequer concordei, mas que, de forma alguma me irritou: que o Benfica tinha ganho porque tinha sido melhor. Quando será que ouviremos os grandes senhores do Sporting algum dia dizerem coisa semelhante?»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (28/03/2006)

segunda-feira, março 27, 2006

Vitória justa


Académica  0   -   1  FC Porto


Este era mais um jogo importante para o FC Porto, mais uma final. Só os três pontos interessavam já que o Sporting dificilmente perderia pontos no seu estádio, frente ao Penafiel.

Co Adriaanse mexeu na equipa substituindo Vitor Baía por Helton e pondo Alan nas ala direita, alternando com Quaresma. Bosingwa, castigado, foi subsitiuido por Pepe. Tudo o resto mantinha-se na mesma: Pedro Emanuel, a capitão, era o central e Marek Cech a lateral esquerdo. No meio-campo tudo igual com Assunção, Meireles e Lucho González; enquanto na frente de ataque estavam mais uma vez McCarthy e Adriano, que chegou a estar em dúvida para este jogo.

Durante a primeira parte, o FC Porto foi sempre a equipa com sinal mais. McCarthy teve duas boas oportunidades para marcar e Lucho, de cabeça, também podia ter feito golo. Estiveram em evidência Quaresma que cruzou quase sempre com perigo para a área e Hélton que apesar de ter tido pouco trabalho esteve sempre atento e evitou sempre as jogadas de perigo dos estudantes. A Académica mostrava-se mais preocupada em proteger o seu meio-campo do que propriamente procurar a vitória tornando por isso o primeiro tempo quase sempre de sentido único: a baliza de Dani.

Ainda antes do intervalo, Lucho González lesionou-se com alguma gravidade (segundo Adriaanse) e obrigou a uma substituição forçada. Esperemos que não seja nada de muito grave para que possa ajudar o FC Porto nesta fase decisiva da temporada.

A segunda parte foi muito diferente, desde logo pela atitude da Académica que entrou muito mais pressionante e a jogar mais no meio-campo portista. O jogo ficou sem dúvida mais interessante e aberto, com Pepe a subir no terreno sempre que podia para desiquilibrar a defesa contrária. O jogo, apesar de repartido, não desatava e Adriaanse mexeu na equipa substituindo Adriano, muito esforçado mas pouco decisivo, por Hugo Almeida. Decisão mais que acertada já que nem 10 minutos depois o Porto chegaria à vantagem. Jorginho, que substituira Lucho, faz um passe a rasgar toda a defesa da Académica e Hugo Almeida, à entrada da área, dispara fortíssimo não dando hipóteses a Dani. Estava feito o golo e da maneira que estava o jogo, o mais importante era mesmo segurar a vantagem. Adriaanse tira McCarthy e põe Ricardo Costa com o intuito de preencher melhor a sua defensiva que, diga-se, esteve muito bem.

Com estes três pontos mantém-se a vantagem sobre o Sporting isto quando falta apenas 1 jornada (contra o Gil Vicente, em casa) para a deslocação a Alvalade, num jogo que promete.


Mais e Menos

+ Hugo Almeida Foi decisivio já que marcou o golo da vitória. Vamos ver se lhe dá confiança para o que resta da temporada.

+ Pepe Imperial. Esteve impecável a defender e muito oportuno a atacar. Fundamental neste sistema de jogo.

+ Adriaanse Acertou em cheio nas substituições. Esteve mais activo do que é costume.

- Lesão de Lucho Perda importante para o meio-campo portista. Adivinha-se uma paragem de várias semanas.


Declarações

Co Adriaanse (FC Porto)

«Este jogo foi muito difícil. A Académica jogou bem. Tivemos o jogo com o Sporting e os meus jogadores estão cansados. Houve também um pouco menos de mentalidade... Na primeira parte, criámos três boas oportunidades, duas por McCarthy e uma grande por Lucho. Depois Lucho saiu lesionado... No segundo tempo, Hugo Almeida teve um bom remate e foi um grande golo. Foi uma vitória muito importante para sermos campeões.»

Hélton (FC Porto)

«Acredito que o resultado é justo. Procurámos trabalhar em prol do objectivo, que é lutar pelo título. A equipa soube administrar bem esta partida.»

[Sobre o novo penteado] «Este cabelo é mais um maneira de descontrair. O importante é estar sempre relaxado.»


Ficha do Jogo

Liga 2005/06 (28ª jornada)

Estádio Cidade de Coimbra, em Coimbra

Árbitro: António Costa (Setúbal)
Assistentes: António Godinho e Pedro Pinheiro
4º árbitro: Luís Reforço

ACADÉMICA: Dani; Pedro Silva, Zé Castro, Hugo Alcântara, Ezequias e Vítor Vinha; Roberto Brum, Nuno Piloto e Filipe Teixeira; Gelson e Joeano
Substituições: Zé Castro por Paulo Adriano (36m), Ezequias por NDoye (63m) e Nuno Piloto por Luciano (74m)
Não utilizados: Pedro Roma, Fernando, Andrade e Serjão
Treinador: Nelo Vingada

F.C. PORTO: Hélton; Pedro Emanuel, Pepe e Marek Cech; Paulo Assunção, Lucho González e Raul Meireles; Alan, Adriano, McCarthy e Ricardo Quaresma
Substituições: Lucho González por Jorginho (41m), Adriano por Hugo Almeida (62m) e McCarthy por Ricardo Costa (72m)
Não utilizados: Vítor Baía, Lisandro, Bruno Alves e Ivanildo
Treinador: Co Adriaanse

Ao intervalo: 0-0
Marcadores: Hugo Almeida (71m)
Disciplina: Cartão amarelo a Vítor Vinha (81m)

* Fotos AP (Associated Press)

sábado, março 25, 2006

Ainda?

Já muita tinta correu desde que o Sporting foi eliminado pelo FC Porto da Taça de Portugal. Mesmo depois das fotografias publicadas pel'O Jogo e em diversos «blogs» dedicados ao futebol, são ainda muitos os sportinguistas que continuam a não (querer) acreditar nas evidências. Porquê? Os motivos são vários:

- O Sporting estava num bom momento e a maioria acreditava ser possível derrotar o FC Porto em casa;

- A 10 minutos do fim, já no prolongamento, o Sporting estava com um pé na final. Alguns minutos depois deixou-se empatar e acabou mesmo por perder nas grandes penalidades. Não foi pelo árbitro que perdeu o jogo, foi por não ter conseguido segurar a vantagem. Quem manda o Caneira, já «amarelado», tirar satisfações de Raúl Meireles arriscando o segundo amarelo?

- O Sporting sempre se considerou «anti-sistema» (ainda se lembram do ridículo luto?), apesar de ser um dos clubes mais beneficiados pela arbitragem. Tal como vem n'O Jogo de hoje, em quatro anos foram assinalados 33 penaltys a favor dos sportinguistas, quase o dobro em relação ao FC Porto;

- Paulo Bento mereceu esta derrota. A sua postura no final do encontro demonstra claramente o seu mau perder. Algo que no Sporting é habitual. Estranho que não se tenham indignado tanto quando o Leiria foi prejudicado com um golo que entrou mais de meio metro na baliza de Ricardo;

- Para ser mauzinho, podia dizer que o Sporting teve aquilo que o Porto tem tido nas últimas três ou quatro deslocações a Alvalade: azar com a arbitragem.

* Foto tirada do blog Portogal.

quinta-feira, março 23, 2006

POOORTO!




Final, aqui vamos nós!

quarta-feira, março 22, 2006

MST: Dúvidas, certezas e verdades oficiais

«1. Desde há muito tempo que se aprende no jornalismo a técnica para transformar um acontecimento controverso numa verdade acima de qualquer controvérsia. É fácil: distorce-se o facto, de modo a que as dúvidas suscitadas comecem por parecer sem importância, antes de desaparecerem de vez — em lugar de um facto duvidoso passa-se a ter uma certeza. Depois, a certeza é repetida como tal, tantas vezes quantas as necessárias para que se transforme em verdade — não numa verdade inquestionável, mas ao menos numa verdade que já ninguém se dá ao trabalho de questionar. É assim que, há mais de um ano, os jornalistas benfiquistas conseguiram estabelecer a «verdade» de que a bola rematada por Petit entrou na baliza de Baía, no jogo da Luz do ano passado. Ora, a verdadeira «verdade» é que, tal como aqui o escrevi na altura, a bola deu, de facto, a impressão de ter entrado na baliza, mas nem o árbitro ou o juiz-de-linha o poderiam ter visto de onde estavam, nem, até hoje, apareceu uma única imagem ou outra prova que o pudesse confirmar com toda a certeza. E, na dúvida sobre se foi golo ou não, o que deve o árbitro fazer? Tanto quanto sei, as regras da FIFA mandam que deixe seguir o jogo. Peguemos agora no exemplo oposto. Eu não posso também jurar que a bola cruzada pelo jogador do Rio Ave e que acabaria anteontem no fundo da baliza do Benfica (deixando-o em péssima situação, não apenas no campeonato mas no acesso à Liga dos Campeões) não estava realmente completamente fora — como mandam as regras, para que pudesse ser assinalada como tal. Mas fiquei com a impressão nítida de que, de forma alguma, a bola esteve completamente fora. O que mandam as regras? Que, na dúvida, se deixe seguir a jogada. O que é estranho aqui, portanto, é que o juiz-de-linha não tenha tido dúvida alguma. É que o único ângulo em que ele poderia ter essa certeza era estando colocado exactamente no prolongamento da linha final. Porém, acontece que, decorrendo a jogada do lado oposto, se ele estivesse no prolongamento da linha final, teria, entre ele e a bola, dois postes, dois defesas do Benfica e o guarda-redes Moretto. Ou seja: não pode ter visto nada. De onde lhe veio essa certeza ou esse instinto de levantar a bandeirola para anular um golo que a todos pareceu limpo (excepto ao Nuno Gomes, que protesta sempre com tudo...) é um mistério que, se acontecido em benefício de outras cores, daria direito a um rol sem fim de suspeitas e declarações incendiárias dos senhores do costume. Esta semana os jornalistas benfiquistas estabeleceram como verdade que o Benfica foi prejudicado em dois jogos consecutivos, contra a Naval e contra o Guimarães. Transformaram dúvidas em certezas, desejos ou opiniões próprias em verdades oficiais. Contra a Naval queixam-se de um penalty por derrube a Léo. Mas as imagens mostram que o jogador da Naval primeiro toca na bola e desvia-a e só depois é que a sua perna estendida derruba Léo. O que mandam as regras? Contra o Vitória de Guimarães, queixam-se de que o golo do Vitória foi precedido de um passe feito com braço. Mas, dos cinco jogadores do Benfica à roda do lance, só o guarda-redes e Nuno Gomes protestaram (e este protesta sempre contra tudo). E o mais que as imagens, repetidas infindavelmente, mostram é que o jogador do Guimarães salta para dar com o joelho na bola e que esta, talvez, talvez, lhe tenha batido também algures na mão, no braço, no cotovelo, no ombro (há alguém que possa dizer ao certo?). E assim, estabelecendo estas «verdades», preparou-se o terreno para Vila do Conde. A única certeza que o juiz-de-linha teve naquele lance é que de forma alguma poderia correr o risco de validar um golo ao Rio Ave que depois pudesse ser contestado pelo povo benfiquista. A mesma certeza que teve o árbitro quando conseguiu não ver nem jogo perigoso nem pé em riste, quando o Mantorras obriga o adversário a baixar a cabeça para não ser pontapeado e mesmo assim ainda leva com a bota dele na cara, após o remate milagroso do angolano. Claro que a justiça também é sempre importante. Não vi o jogo contra o Guimarães, mas, nos outros dois, é incontestável que o Benfica fez o suficiente para merecer ganhar ambos, ou os adversários não fizeram nada para justificar outra coisa que não a derrota. O problema está em que foi por erros próprios, e não por culpa do árbitro, que o Benfica empatou com a Naval; e foi por culpa exclusiva do trio de arbitragem que o Benfica ganhou ao Rio Ave.

2. O FC Porto-Sporting de amanhã, para a Taça, é um jogo interessante por diversos motivos e tem obrigação de não trair esse interesse. O FC Porto de Adriaanse joga muito melhor futebol que o Sporting de Paulo Bento, mas, ao contrário deste, tem-se mostrado incapaz de vencer jogos decisivos. Tendo o dobro do orçamento do Sporting, é fatal que o FC Porto tenha também muito melhor equipa e muito mais e melhores soluções. Uma equipa que se pode dar ao luxo de deixar de fora, como sucedeu no último jogo, jogadores como Helton, César Peixoto, Ricardo Costa, Ibson, Diego, Jorginho, Alan, Ivanildo, Hugo Almeida ou Lisandro, todos pagos a bom dinheiro, tem obrigação estrita de ganhar amanhã e ganhar depois em Alvalade. Mas este FC Porto é uma caixinha de surpresas, para o bem e para o mal: perde quando está confiante, ganha quando está em crise anunciada, perde jogos que estavam ganhos, ataca quando não precisa, defende quando não deve. Já o Sporting de Paulo Bento é o contrário: é previsível e seguro até à chatice profunda. Joga para ganhar e nada mais lhe interessa, como de novo se viu em Leiria. Mas cumpre os três requisitos, os três C tão caros aos treinadores portugueses: coeso, coerente e consistente — como eles gostam de dizer, e seja isso o que for. Dificilmente teremos um jogo aberto, mas vamos ter um jogo onde a vitória só interessa a ambos e vai ser interessante ver como é que cada um justifica as suas pretensões.

3. Uma coisa é forçoso reconhecer, para melhor, no FC Porto de Co Adriaanse: é a equipa mais disciplinada do campeonato. Houve agora, no Funchal, a injustíssima expulsão do Pepe, por duas faltas que não cometeu (mas o árbitro era Lucílio Baptista...) e, à parte isso, creio que é a equipa com menos cartões do campeonato, ou deve andar lá perto. Desapareceram os cotovelos, verdadeiros ou inventados, do McCarthy (e, com eles, misteriosamente desapareceram também todos os cotovelos e todos os «sumaríssimos » do nosso futebol...) e a equipa foge das faltas inúteis e do futebol violento: contra o Paços de Ferreira julgo que o FC Porto terá estabelecido um recorde na Super Liga — oito faltas cometidas em todo o jogo! Ninguém protesta com o árbitro, decida ele o que quiser (golo mal anulado contra o Nacional, com 0-0; penalty inexistente no último minuto contra o Braga, a custar dois pontos; penalty inexistente e amarelo absurdo ao Pepe contra o Marítimo; penalty não assinalado, contra o Paços, etc., tudo sem mais do que um levantar de braços). E o exemplo vem de cima: Co Adriaanse deve ser o único treinador da SuperLiga que até hoje nunca se queixou de uma decisão do árbitro nem justificou um mau resultado com a arbitragem; Reinaldo Teles jamais abriu a boca desde o início do campeonato; e McCarthy até teve o gesto impensável de aconselhar o árbitro a rever a sua decisão de expulsar um adversário e marcar um penalty a favor do Porto, que não tinha existido. São coisas de que ninguém fala e é pena.»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (21/03/2006)

domingo, março 19, 2006

Paço a Paço, rumo ao título?


FC Porto  3   -   0  Paços de Ferreira


Mais uma vitória, mais três pontos. Nesta segunda volta, 14 golos marcados, 4 golos sofridos, 2 derrotas, 2 empates e 6 vitórias.

Infelizmente não pude ver o jogo, por motivos profissionais, mas pelo que pude ver no resumo e pelas crónicas que li só posso estar contente e confiante nesta equipa.

Deixo aqui algumas notas sobre este encontro e os que aí vêm:

* Este esquema de jogo está a dar os seus frutos, sobretudo com equipas teoricamente mais fracas. Espero que resulte também definitivamente já contra o Sporting.

* McCarthy e Adriano estão em grande. Há já muito tempo que o Porto não tinha uma verdadeira «dupla» de avançados.

* Pedro Emanuel rendeu Pepe no centro da defesa quando tudo fazia prever que seria Bruno Alves o escolhido. Esteve bem e ainda assistiu McCarthy no primeiro golo.

* Anderson começa a mostrar que foi uma contratação acertada. Joga muito bem e para a equipa o que é fundamental neste sistema de jogo. Ah, ainda é muito novo e pode melhorar muito mais.

* O trio do meio-campo tem estado impecável. As tarefas estão bem definidas e caso seja necessário há outras opções (de luxo) disponíveis no banco.

* A última nota tinha de ser mesmo para Adriaanse. Será que finalmente os jogadores conseguem executar o que idealiza para a equipa? Certo é que estas últimas vitórias devem-se sobretudo ao holandês que conseguiu pôr um conjunto de bons jogadores no início da época (ainda se lembram do final da época passada e dos remendos?) a jogar um futebol muito vistoso, rápido, eficaz e que ultimamente nem golos sofre. A Adriaanse só falta mesmo ganhar um jogo grande e decisivo para embalar a equipa rumo ao título. O próximo jogo em Alvalade será a sua derradeira prova de fogo na SuperLiga.


Declarações

Co Adriaanse (FC Porto)

«A minha equipa está a jogar muito bem. Adriano e McCarthy têm feito golos. Contra o Marítimo tive que tirar o Anderson porque o Pepe viu um cartão vermelho, mas agora, em casa, mesmo à chuva, os trinta mil adeptos puderam ver que Anderson joga bem, apesar de ter ainda uma longa carreira pela frente. Agora fazemos mais golos, sofremos apenas catorze golos e marcámos 43».

Jogo com o Sporting, na próxima quarta-feira, da meia-final da Taça: «É um grande jogo. O Sporting joga bem, não perde há muito tempo, mas estamos felizes por poder jogar em casa, no Dragão. Espero que muitos adeptos venham ver o jogo. Espero que possamos ganhar e ir à final de Lisboa».

McCarthy (FC Porto)

«Era sempre importante trabalhar bem e na máxima força, principalmente porque estamos na recta final do campeonato em que podemos ser campeões, mas também podemos perder tudo porque o Sporting também está num bom momento. Agora voltei a reencontrar-me como os golos e espero que continue assim. A equipa está a jogar bem, estamos mais ofensivos e criamos sempre muitas ocasiões de golo. É mais fácil jogar com o Adriano porque entendemo-nos muito bem e fazemos sempre golos. O objectivo é marcar ao Sporting, manter o ritmo de jogo e não facilitar quando tiver oportunidades. O jogo com o Sporting é um clássico e os clássicos são sempre os jogos mais bonitos para se jogar. Vamos jogar em casa e queremos ganhar porque este ano ainda não ganhámos nenhum clássico».


Ficha do Jogo

Liga 2005/06 (27ª jornada)

Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 30.309 espectadores

Árbitro: Hélio Santos (Lisboa)
Assistentes: Ricardo Santos e Venâncio Tomé
4º árbitro: Hugo Miguel

F.C. PORTO: Vítor Baía; Bosingwa, Pedro Emanuel «cap.» e Cech; Paulo Assunção; Quaresma, Lucho González, Raul Meireles e Anderson; McCarthy e Adriano
Substituições: McCarthy por Lisandro Lopez (56m), Quaresma por Ivanildo (63m) e Adriano por Hugo Almeida (78m)
Não utilizados: Paulo Ribeiro, Ricardo Costa, Ibson e Bruno Alves
Treinador: Co Adriaanse

PAÇOS DE FERREIRA: Peçanha; Primo, Geraldo, Emerson e Fredy; Luiz Carlos; Paulo Sousa «cap.», Júnior e Pedrinha; Edson e Didi
Substituições: Geraldo por Júnior Bahia (46m), Edson por Renato Queirós (59m) e Pedrinha por Alexandre (75m)
Não utilizados: Pedro, José Fonte, Edinho e Rui Dolores
Treinador: José Mota

Ao intervalo: 1-0
Marcadores: McCarthy (30m), Adriano (46m) e Lisandro Lopez (73m)
Disciplina: Cartão amarelo a Luiz Carlos (62m) e Paulo Sousa (66m)

* Fotos AP (Associated Press)

quarta-feira, março 15, 2006

A caminho das meias-finais


Marítimo  1   -   2  FC Porto


Sem transmissão televisa, esta eliminatória da Taça de Portugal pôde ser acompanhada pela rádio, fazendo lembrar outros tempos.

Para além da habitual dificuldade do Porto quando joga nos Barreiros havia ainda um «extra» chamado Lucílio Baptista, que mostrou 8 cartões ao FC Porto incluindo um vermelho para Pepe, mas não foi suficiente para afastar os dragões da Taça.

O primeiro golo surgiu por Benny McCarthy aos 21' após um bom cruzamento de Quaresma. O Porto dominava o encontro mas o Marítimo estava muito perigoso chegando por diversas vezes à baliza de Vitor Baía. Numa dessas investidas, aos 32', Pepe inventa na área e Filipe Oliveira aproveita para se fazer ao penalty provocando o contacto. Lucílio Baptista obviamente não hesitou e marcou grande penalidade que seria convertida por Kanu tendo o central visto o cartão amarelo. O empate era o resultado quando as equipas foram para o balneário.

Logo no início do segundo tempo, Pepe protege a bola para sair pela linha de fundo e Filipe Oliveira cai com o contacto. Mais uma vez Lucílio Baptista, oportuno, marca falta e aproveita para mostrar ao brasileiro o segundo cartão amarelo forçando assim o Porto a jogar com 10 unidades com o resultado em 1-1 e com mais de 40 minutos para jogar.

Os azuis e brancos não se intimidaram com a inferioridade numérica e estiveram quase sempre bem a preencher os espaços sendo evidente a entre-ajuda entre os vários sectores da equipa. O Marítimo, com mais um, tentava fazer a diferença mas não conseguiu marcar tendo Vitor Baía contribuido decisivamente para o empate que se registou no fim dos 90'.

Aos 6' do prolongamento McCarthy aproveita um erro da defensiva maritimista à entrada da área e volta a marcar atirando rasteiro para o poste mais distante de Marcos. O Porto chegava assim à vantagem que até final não iria mais largar, demonstrando assim um grande carácter após mais de uma hora a jogar com menos um elemento.


Mais e Menos

+ McCarthy Dois golos, decisivo na eliminatória. Além de marcar ainda ajudou a defender. Voltou o Benny dos velhos tempos?

+ Quaresma Foi a unidade mais perigosa no ataque. Fez a assistência para o primeiro golo.

+ Vitor Baía Um par de boas defesas impediu que o Marítimo passasse esta eliminatória. Decisivo.

- Pepe No mínimo desastrado. Prejudicou duplamente a sua equipa ao conceder um penalty e ao ser expulso.

- Anderson Exibição sem chama. Na primeira vez que actuou como titular não conseguiu mostrar todos os seus atributos. Foi substituido após a expulsão de Pepe para equilibrar o sector defensivo.


Ficha do Jogo

Taça de Portugal (quartos-de-final)

Estádio dos Barreiros, no Funchal

Árbitro: Lucílio Baptista (Setúbal)
Assistentes: Luís Salgado e Hernâni Fernandes
4º árbitro: António Taia

MARÍTIMO: Marcos; Briguel, Fernando, Mitchell, Valnei e Evaldo; Wénio, Caíco e Marcinho; Filipe Oliveira e Kanu
Substituições: Wénio por Rincon (62m), Filipe Oliveira por Mancuso (73m) e Kanu por Paulinho (84m)
Não utilizados: Nélson, Nuno Morais, Gaal e Olberdam
Treinador: João Abel

F.C. PORTO: Vítor Baía; Bosingwa, Pepe e Pedro Emanuel «cap.»; Paulo Assunção; Quaresma, Lucho González, Cech e Anderson; McCarthy e Adriano
Substituições: Anderson por Bruno Alves (51m), Quaresma por Ibson (98m) e McCarthy por Hugo Almeida (115m)
Não utilizados: Paulo Ribeiro, Ricardo Costa, Ivanildo e Lisandro Lopez
Treinador: Co Adriaanse

Ao intervalo: 1-1
Marcadores: McCarthy (22 e 96m) e Kanu (33m, g.p.)
Disciplina: Cartão amarelo a McCarthy (30m), Pepe (32 e 49m), Briguel (54 e 120m), Rincon (65m), Valnei (72m), Quaresma (79m), Marcos (94m), Bruno Alves (95m), Vítor Baía (100m) e Cech (118m)

* Fotos AP (Associated Press)

terça-feira, março 14, 2006

O cerco aperta-se...

Foram divulgados os árbitros para os dois próximos jogos do FC Porto. O facto não seria muito relevante se não fossem os nomes em causa.

No jogo de amanhã, na Madeira frente ao Marítimo temos Lucílio Baptista. Para um jogo de taça, a eliminar, é de esperar tudo deste «velho» conhecido. A julgar pela nomeação recente de Bruno Paixão que apitou o FC Porto para a Taça e dois jogos depois para o campeonato, é capaz de já estar escolhido o árbitro para o decisivo Sporting - FC Porto. Não seria a primeira vez... nem a segunda.

Na próxima jornada, para o campeonato, temos Hélio Santos, o já mítico árbitro das botas emprestadas pelo Benfica. Vamos ver se desta vez traz equipamento de casa ou se joga com as botas do Paços de Ferreira...

MST: Não basta ganhar

«1. Em Liverpool, Luís Filipe Vieira teve uma jornada em cheio, ganhando ao mesmo tempo em vários tabuleiros. Primeiro, e obviamente, ganhou o jogo e a eliminatória com tudo o que isso representa para o Benfica em termos de notoriedade prestígio e ganhos financeiros. Em segundo lugar, ganhou duas apostas individuais: uma, em Simão Sabrosa e na decisão de não o ter vendido em Janeiro, precisamente para o Liverpool. Quando se quer fazer carreira na Europa é essencial gerir bem o tempo certo para vender os grandes jogadores: pressionado por todos os lados, também Pinto da Costa recusou vender Deco em 2003 e isso valeu-lhe a conquista da Liga dos Campeões. A outra aposta individual ganha é, a meu ver, a de Ronald Koeman. Eu sei que muitos benfiquistas que já lhe tinham encomendado a alma antes da vitória sobre o Manchester e da recuperação no Campeonato continuam cépticos e voltaram a alimentar as suas dúvidas ou discordâncias após a derrota com o Sporting, ou mesmo após este empate com a Naval. Mas Koeman tem mostrado que, tal como se diz dos grandes jogadores (veja-se o caso de Simão, justamente), também ele é homem dos grandes jogos. Talvez lhe falte a ciência de jogar internamente contra equipas-autocarro — uma espécie de jogo, ou de antijogo, a que, de facto, os holandeses não estão habituados. Mas nos grandes jogos, e ao contrário do seu compatriota Adriaanse, ele tem mostrado que sabe o que fazer e que nada acontece por acaso. É verdade que teve muita sorte nos primeiros vinte minutos de Anfield Road, como ele próprio reconheceu, mas a partir daí foi claro que Koeman sabia exactamente o que esperar do Liverpool e preparou-se para os enfrentar e derrotar.

Porém, não ficaram por aqui os motivos de satisfação pessoal do presidente benfiquista. Aproveitando a social opportunity da deslocação a Liverpool, ele levou consigo todos os presidentes que votam na Liga de Clubes — com excepção de Sporting, FC Porto e do próprio presidente da Liga — e deve ter trazido consigo na bagagem, a troco da viagem, de uns almoços e da oportunidade de projecção social, o número suficiente de votos para garantir que, nas próximas eleições, por si ou por pau-mandado, o Benfica passará a dominar por completo a Liga de Clubes. Sozinho, desta vez, sem necessidade de fazer sociedade com o Boavista ou o major.

Com tantos triunfos simultâneos garantidos à conta de uma simples deslocação a Liverpool, o presidente do Benfica sentiu-se imediatamente tão «confortável», como dizem os banqueiros, que desatou imediatamente a disparar sobre os não-presentes na comitiva: partiu para Liverpool com um insólito comício em pleno aeroporto, cujo objectivo era ofender o presidente do FC Porto e diminuir o presidente da Liga — o seu aliado de ontem, hoje descartável; e regressou de Liverpool para logo se lançar num descabelado e deselegantíssimo ataque ao presidente do Sporting, seu amigo de ontem, a propósito da questão de saber qual dos dois clubes estará mais falido e qual deles terá recebido mais ajudas da Câmara de Lisboa, para o respectivo estádio (aqui, eu posso ajudar, tendo feito as contas: cerca de 13 milhões de contos, em dinheiro ou espécie, recebeu o Benfica, e cerca de 7 milhões o Sporting).

Ora, este comportamento do presidente do Benfica dá que pensar, sobretudo por ter sido numa altura em que ele deveria estar bem disposto, tranquilo, satisfeito por ver resultados do seu esforço à frente do clube. E não me custa nada reconhecer o que, aliás, já aqui escrevi anteriormente: acho que Luís Filipe Vieira tem feito um trabalho notável no Benfica. Está a ressuscitar o clube, à custa de uma dedicação incansável, como ainda agora se viu, chegando de Liverpool para partir menos de 48 horas depois para a China, ao serviço do Benfica. Além disso, tem tido ideias e iniciativas, onde anteriormente, só havia espalhafato e incompetência, e não consta que receba ordenado nem comissões ou participação nos lucros.

Só que, aparentemente, o presidente do Benfica, habituado a subir a pulso na vida, não se dá mal com o esforço, mas dá-se mal com a recompensa. Não sabe ganhar, da mesma forma que sabe lutar pela vitória. É claro e nítido que ele não quer apenas recuperar o Benfica, mas quer também mandar em todo o futebol português, através do controlo da Liga, como aliás disse desde logo. É clara e nítida a influência determinante que o Benfica já tem hoje em sectores decisivos dos bastidores do futebol (basta ver como o José Veiga se dirige aos árbitros, como se fossem seus empregados, quando não gosta do trabalho deles...). Mas parece que isso não basta: Vieira agora quererá o poder todo para si, despreza os aliados de ontem e quer ver os inimigos, não apenas vencidos no campo, mas pessoalmente arrasados. É capaz de ser palha de mais para a sua carroça.

O presidente do Benfica, digo eu, deveria talvez meditar nas razões pelas quais o seu antecessor Borges Coutinho foi campeão da Europa e pôs o país inteiro a admirar e a respeitar o Benfica. E deveria meditar naquilo que Bobby Robson, um cavalheiro do futebol, disse acerca de José Mourinho, seu antigo discípulo e actual amigo: que, se quer ser respeitado e admirado em Inglaterra, inclusive para benefício do Chelsea, não basta a Mourinho ganhar — tem também de saber ganhar, e, quando for o caso, de saber perder. Om undo inteiro acaba de ver que o Barcelona foi, em dois jogos, melhor equipa que o Chelsea e com um futebol muito mais atractivo. Só Mourinho continuou a insistir que o que fez a diferença foi a expulsão de Del Horno em Stanford Bridge — e mesmo essa, foi ele o único a não reconhecer que tinha sido justa. Independentemente da nossa fatal inclinação para estarmos sempre do lado dos compatriotas no exílio, é forçoso reconhecer que Mourinho se tem posto demasiadas vezes a jeito para levar com a enxurrada de críticas da imprensa inglesa. Certamente que muitas delas são movidas pela inveja ou pela xenofobia, mas também não há dúvida alguma de que os ingleses, alguns pelo menos, não têm o fair play como expressão de circunstância. Quando não se sabe ganhar, quando se confunde orgulho com arrogância, pode-se até ganhar tudo, mas os únicos que hão-de admirar as vitórias são os da própria tribo.

2. Numajornada sem nenhum interesse, registei: — o chatíssimo jogo de Setúbal, onde o FC Porto só podia naturalmente vencer;

— a sétima vitória consecutiva do Sporting sobre um Boavista desfalcado e através de mais um jogo sem classe e com discretas, mas importantes, decisões favoráveis da arbitragem (as quais, passam naturalmente em silêncio, por parte dos dirigentes leoninos, sempre prontos a inversamente reclamarem aos gritos, nem que seja um canto mal decidido);

— o habitual e comovente esforço dos comentadores televisivos para desculparem as más exibições do Benfica com pretensos erros de arbitragem, cujo juízo chega a ser despudorado (olha, se fossem eles a arbitrar os jogos do Benfica!);

— a total incapacidade e falta de vontade de jogadores como os da Naval ou Setúbal – apesar de tudo, profissionais da I Liga – de terem o mínimo de cultura de futebol de ataque, com verdadeiro terror de ultrapassar a linha de meio campo e fazendo remates à baliza que envergonhariam qualquer miúdo de liceu. Se é para isto que querem estar na Superliga, mais valia não estarem.»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (14/03/2006)

sábado, março 11, 2006

Mais três pontos


Setúbal  0   -   2  FC Porto


Mais três pontos conquistados pelo FC Porto, desta vez no estádio do Bonfim. Apesar de não perder em Setúbal há mais de 20 anos esta é sempre uma deslocação complicada, apesar do efeito da razia feita pelo Benfica e pelos ordenados em atraso ao plantel sadino.

O jogo foi morno, mas sempre dominado pelos azuis e brancos. Esta equipa do Setúbal se não fosse a fantástica primeira volta arriscava-se a ser uma das equipas a descer.

Co Adriaanse manteve a mesma estrutura apesar de ter trocado Ivanildo por Lisandro. A estratégia parece agora estar a render mas continuo com a ideia que qualquer estratégia é boa desde que a bola entre... e nestes dois últimos jogos entrou! Apesar disso, o FC Porto apresenta um futebol agradável e vistoso ficando para sempre a questão: porque não resulta nos jogos grandes? O jogo com o Sporting irá ser o derradeiro teste.

A história do jogo resume-se ao ataque continuado portista e os tímidos contra-ataques do Setúbal. Adriano marca de cabeça após um canto cobrado por Raúl Meireles, seguramente o MVP, já perto do intervalo. Pouco depois do início da segunda parte, o mesmo Raúl Meireles iria marcar de cabeça após um excelente trabalho de Quaresma. Depois do jogo com o Nacional, o Porto consegue mais uma vez marcar golos no fim do 1º tempo e «matar» o jogo com outro golo no início do 2º.

Até final só deu Porto, a jogar em gestão e mais inclinado para o show e o Setúbal a mostrar a sua falta de argumentos para conseguir um resultado positivo.

Faltam agora 8 jogos até final do campeonato e o Porto consegue assim no mínimo manter a mesma distância para os rivais. Qualquer deslize nesta altura será fatal...


Mais e Menos

+ Raúl Meireles Esteve nos dois golos. Para além disso esteve sempre muito activo na sua zona de acção. Está a fazer um bom final de campeonato.

+ Adriano Mais um golo, desta vez a inaugurar o marcador e a aliviar todos os portistas. Aos poucos ganha o seu espaço e contribui definitivamente para um bom final de campeonato.

- Lisandro López Não consigo perceber o que se passa com o Argentino... desde o início do ano que não faz uma exibição convincente. Muito esforçado mas com poucos resultados.


Declarações

Co Adriaanse (FC Porto)

«Jogámos muito bem, controlámos a partida frente a um adversário muito difícil, que ocupa a sétima posição do campeonato. É complicado marcar neste estádio, porque o Setúbal defende muito bem, mas repetimos a boa exibição feita ante o Nacional e quero destacar o excelente golo do Raul Meireles, que tem progredido muito. Agora temos de esperar pelos resultados do Sporting e do Benfica, sabendo que temos oito finais pela frente até ao fim do campeonato».

Sobre o Blackout:«Falo sempre depois dos jogos. Regressar às conferências de imprensa de antevisão depende da vontade do grupo, por mim talvez fosse».

Adriano (FC Porto)

«Fizemos uma bela exibição, pressionámos muito e trocámos bem a bola. Felizmente, os golos acabaram por chegar e continuamos na caminhada para o título. Estou a trabalhar para ficar no F.C. Porto e, felizmente, as coisas estão a correr bem, porque jogo com regularidade».


Ficha do Jogo

Liga 2005/06 (26ª jornada)

Estádio do Bonfim, em Setúbal

Árbitro: Pedro Henriques (Lisboa)
Assistentes: Gabínio Evaristo e Carlos Nilha
4º árbitro: Marco Pina

V. SETÚBAL: Rubinho, Janicio, Auri, Veríssimo e Adalto; Binho, Sandro e Ricardo Chaves; Carlitos, Pedro Oliveira e Sougou.
Substituições: Adalto por Bruno Ribeiro (34m), Pedro Oliveira por Varela (57m), Carlitos por Fonseca (78m)
Não utilizados: Marco Tábuas, Flávio, Madior e Julien
Treinador: Hélio Sousa

F.C. PORTO: Vítor Baia, Bosingwa, Pepe e Pedro Emanuel «cap»; Lucho, Paulo Assunção e Raul Meireles; Quaresma, McCarthy, Adriano e Lisandro
Substituições: Lisandro por Cech, (81m), Adriano por Hugo Almeida (89m)
Não utilizados: Paulo Ribeiro, Ricardo Costa, Ibson, Bruno Alves e Ivanildo
Treinador: Co Adriaanse

Ao intervalo: 1-0
Marcadores: Adriano (41m) e Raul Meireles (50m)
Disciplina: Cartão amarelo a Pepe (62m) e Raul Meireles (78m)

* Fotos AP (Associated Press)

quinta-feira, março 09, 2006

MST: A lição de Madrid

«Florentino Pérez foi dos melhores presidentes que o Real Madrid alguma vez teve. Eleito em 2000 para a presidência do Real, reeleito em 2004, a sua gestão chegou agora ao fim, por decisão própria e após seis anos que mudaram o clube. Quando chegou, o Real estava falido, quando saiu agora, o RealMadrid é o clube mais rico do Mundo, segundo a consultora Deloitte and Touch, que o situa mesmo à frente do Manchester United. Para aí chegar, e fazendo jus à sua fama de grande gestor de empresas, Florentino Pérez começou por congeminar a operação imobiliária com terrenos circundantes ao Estádio de Chamartin, com isso invertendo logo a situação financeira do clube. Depois, e começando com o rapto de Figo ao Barcelona, lançou-se na célebre política de contratar um «galáctico por ano». De facto, contratou mais do que isso: dezassete em seis anos — mesmo assim muito menos que alguns clubes portugueses que chegam a contratar os mesmos dezassete... em cada ano, para depois lhes pagarem grande parte do ordenado para eles jogarem por empréstimo noutros clubes. Mas Florentino só comprou do bom e do melhor: Figo, Ronaldo, Zidane, Beckam, Owen, Robinho, etc. e mais etc., num total de 400 milhões de euros de investimentos só em jogadores: 65 milhões de compras por época (13milhões de contos!).

Esta política, que muitos anteviram como suicidária, teve o efeito oposto e esperado por Florentino: transformou o Real Madrid num clube milionário. O génio de Florentino Pérez foi conseguir desligar os resultados financeiros do clube dos resultados desportivos, das assistências e dos direitos televisivos. Se assim não fosse, aliás, o Real não poderia ter continuado a crescer e a sustentar os gastos com as suas vedetas: o estádio, por exemplo, já não pode levar mais ninguém e existem trinta mil pessoas em lista de espera para comprar um lugar cativo em Chamartin, o que levou a Direcção a exigir aos actuais titulares de lugares um número minímo de presenças no estádio todas as épocas, sob pena de perderem o seu lugar a favor dos que esperam. Em vez das receitas clássicas, Florentino apostou tudo no marketing e merchandising, partindo de princípio que havia cerca de 70 milhões de simpatizantes do Real em todo o Mundo e de que qualquer um deles estaria disposto a compraruma camisola do clube com o nome de um dos seus ídolos — ou duas ou três, se o Real conseguisse ter sempre, em cada equipa, dois outrês potenciais vencedores da Bola de Ouro. Hoje, as receitas do marketing, do merchandising e dos direitos de imagem representam mais de 65 por cento do total de receitas anuais. E o mercado não pára de crescer — sobretudo a Oriente, como o Manchester United já tinha descoberto, e o que leva a equipa, todos os inícios de época, a empreender aquelas desgastantes digressões pelo Extremo Oriente, que fazem o desespero dos treinadores,masque são uma montra vital para afirmar os interesses imperiais do Madrid naquele canto do Mundo.

Terceiro vector decisivo desta política foi a exploração dos direitos de imagem dos «galácticos» ao serviço do Real. Florentino não se limitou a contratá-los a peso de ouro, excedendo tudo aquilo a que o mercado estava habituado, pagando o preço de um avião a jacto por um investimento patrimonial tão frágil quanto o pode ser um jogador de futebol — sujeito a lesões, a baixas de forma, a inadaptação ao clube ou ao treinador ou a excessos pessoais que limitam o seu rendimento desportivo. Além das fortunas que pagou para os contratar, Florentino aceitou pagar também outras fortunas impensáveis para os manter ao serviço: 25.000 euros por dia é um ordenado corrente no Real Madrid, para as estrelas de topo. Em troca, o ex-presidente do Real obteve dos jogadores uma joint venture para a exploração e partilha conjunta com o clube da totalidade ou quase totalidade dos seus direitos de imagem.

As verdadeiramente grandes vedetas do futebol mundial, hoje em dia, não se limitam a explorar directamente campanhas publicitárias, que é um método que tende a saturar o público (veja-se o caso do seleccionador nacional, Luiz Felipe Scolari, que se desdobra em anúncios para tudo e mais alguma coisa, explorando até ao tutano a imagem de «patriota» português construída durante o Euro-2004). As grandes vedetas, como David Beckham, facturam bem mais ainda do que o próprio ordenado ou do que facturam em publicidade directa por calçarem determinado tipo de botas durante os jogos, vestirem determinado tipo de marcas depois dos jogos, andarem neste carro, passarem férias em tal sítio, jogarem golf no campo tal, fretarem um jacto privado de marca tal (que, óbviamente, não pagam, como tudo o resto), ou até por revelarem em entrevistas que ouvem a música de Fulano ou vêem os filmes de Beltrano. Isto, para não falar dos «direitos de presença» que cobram por aparecer em festas, clubes, restaurantes, discotecas, lançamentos de produtos, ou até por desfilarem em acontecimentos de moda. Hoje, os jogadores de futebol de topo são muito mais do que simples desportistas ou até profissionais exemplares. São verdadeiras fábricas ambulantes da própria imagem, que vendem tão bem ou melhor do que os talentos futebolísticos. Não admira, pois, que os vejamos constantemente a mudarem de penteado, a exibirem tatuagens novas ou a vestirem roupas de modelo único, criados exclusivamente para eles. E, nisto também, há os bons e os maus, os bons profissionais, que se sabem aconselhar e seguemuma linha «trandy», e os outros, os que não têm nem gosto nem conselheiros de gosto — e de que temos abundantes exemplos no futebol português da actualidade. Claro que os ingleses, os «galácticos» do Real ou do Barça e, obviamente, os italianos, fazem isto por gosto e profissionalmente. Eles sabem, ou ensinam-lhes, o que mexe com a moda, o que atrai as atenções, o que inspira imitadores. Ainda no Man. United, David Beckham percebeu o que era necessário fazer para ser uma estrela pop,mais do que uma simples estrela de futebol: quando entrava em campo, o que primeiro tinha de atrair as atenções dos adeptos era o corte de cabelo, a cor das botas, o tamanho dos calções, a nova tatuagem. Daí que, em desespero de causa, sir Alex Ferguson tenha tido o célebre desabafo de «não sei treinar um jogador de futebol que muda de penteado todas as semanas!».

Florentino Pérez também não sabia treinar David Beckham, mas sabia exactamente o que fazer com ele e como rentabilizar a sua imagem. Por isso, foi buscá-lo ao Manchester e começou imediatamente a facturar com a simples cerimónia de apresentação, com bilhetes vendidos para 20.000 sócios e transmissão em directo na televisão.

Porém, na estratégia de gestão brilhantemente congeminada por Florentino só havia um senão: era preciso que, para além dos fabulosos ordenados e lucros dos direitos de imagem, os «galácticos» não se esquecessem de que tinham de continuar a treinar no duro, a fazer sacrifícios pessoais e a realizar grandes jogos para justificarem o seu estatuto de vedetas planetárias. E eles esqueceram-se. Aos olhos dos sócios e adeptos de sempre do Real, eles transformaram-se numa colecção de simples mercenários, mais procupados com o dinheiro, a fama e o exibicionismo do que com as suas obrigações contratuais perante o clube e os seus sócios. No fundo, o que os sócios recordaram a Florentino é que o essencial de um clube não são os jogadores, por mais fabulosos que sejam ou por mais vedetas que se julguem: são os adeptos, os que vão ao estádio e seguem a equipa pelos vários cantos do Mundo, os que pagam as quotas e os lugares cativos, os cachecóis e camisolas, os que, ao contrário das vedetas, serão do clube até morrer e comele só gastam dinheiro. O toque a finados no Real foi a derrota em Saragoça por 0-4, para a Taça do Rei, e o comentário de um suplente vindo da «cantera», que, depois de ter obtido um golo para o Real, comentou que «parecia que tinha sido golo do adversário», de tal forma os seus companheiros ficaram indiferentes, sem sequer o cumprimentarem. Florentino Pérez percebeu a mensagem e por isso se demitiu. O que seria de desejar é que a lição da sua queda fosse devidamente meditada por presidentes, agentes e jogadores. Não se esqueçam: nenhum clube sobrevive muito tempo se os donos da bola deixarem de ser os adeptos.»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (06/03/2006)

segunda-feira, março 06, 2006

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domingo, março 05, 2006

Finalmente!


FC Porto  3   -   0  Nacional


Finalmente uma vitória «gorda» com uma exibição convincente a acompanhar. A noite era de grande expectativa no Estádio do Dragão, e por vários motivos: adivinhava-se um jogo difícil, contra uma equipa que defende bem e sofre poucos golos fora de casa; a incerteza sobre o sistema escolhido por Adriaanse dada a ausência de Paulo Assunção; a reacção da equipa após a derrota na jornada passada, na Luz e a possibilidade de Anderson se estrear com a camisola azul-e-branca.

Marek Cech foi a grande novidade na equipa inicial. Quando muitos apostavam na titularidade de Ibson, Adriaanse trocou mais uma vez as voltas e usou o eslovaco como médio-esquerdo. Na defesa e ataque manteve-se tudo na mesma.

Apesar do resultado final, este não foi um jogo fácil, sobretudo nos primeiros 45 minutos onde o Porto teve a «estrelinha» que lhe faltou em muitos outros jogos, conseguindo desta vez marcar nos momentos-chave. O ritmo do jogo foi sempre elevado com ambas as equipas à procura do golo que surgiu por intermédio de McCarthy que abriu o marcador aos 17' após um grande passe de Adriano mostrando assim que a dupla de avançados mostra um bom entendimento. Até final do primeiro tempo o Nacional podia também ter chegado ao golo mas não conseguiu superar Vitor Baía que foi sempre muito apoiado e acarinhado pelos adeptos durante todo o encontro. Já perto do intervalo, aos 44', Pepe marca de cabeça após um livre marcado por Raúl Meireles. O golo, para além de decisivo já que ampliava a vantagem para o intervalo é também um prémio para a excelente prestação do jovem defesa central brasileiro que tem sido o esteio da defesa portista.

O segundo tempo começou com o Nacional apostado em tentar dar a volta ao marcador. André Pinto podia ter reduzido, mas Baía opôs-se bem ao remato do brasileiro. Aos 6' da segunda parte e após uma excelente insistência de Ivanildo, Lucho González remata para o fundo da baliza de Diego Benaglio (boa exibição) «matando» assim o jogo apesar de faltarem ainda cerca de 40 minutos para jogar.

A partir daí, restou ao Porto controlar a partida enquanto o Nacional tentava chegar ao tento de honra, mais com o coração do que propriamente com a cabeça. Até final, Adriaanse pôs ainda em campo Lisandro e Ibson que estiveram muito bem e aproveitou ainda para estrear a jovem promessa brasileira Anderson que, apesar de não ter ainda muito ritmo, conseguiu empolgar os adeptos portistas com uma jogada que só não deu golo por culpa de Diego Benaglio que, mais uma vez, negou um golo aos portistas.


Mais e Menos

+ Pepe Grande exibição, mais uma, desta vez premiada com um golo oportuno.

+ McCarthy Regressou aos golos, após meses de «seca». Há algumas jornadas que «ameaçava» e desta fez mesmo o gosto ao pé. O primeiro de muitos, espero.

+ Quaresma e Ivanildo Irrequietos. Ambos estiveram muito activos no ataque.

- Árbitro Assistente Muitos erros cometidos. Foras-de-jogo mal assinalados e indicações incorrectas ao árbitro principal.


Declarações

Co Adriaanse (FC Porto)

«Estou muito contente com o jogo que fizemos esta noite. Muito rápido, muitos ataques, pela direita e pela esquerda, muitos cruzamentos rápidos de Ivanildo e Quaresma e, especialmente na primeira parte, podíamos ter marcado mais golos do que o fizemos. Por isso estou contente com o nosso jogo, até no aspecto do espectáculo.»

Acerca da estreia de Anderson: «Ele é muito jovem, só tem 17 anos, mas joga fácil e eu esperava que ele pudesse ter marcado naquela oportunidade que teve, teria sido grandioso... Se vai ficar sempre na equipa principal? Tenho muito bons jogadores, não podem ficar todos contentes, nem jogar todos. Hoje era uma boa altura, ganhando 3-0 em casa era boa oportunidade para lançar um jovem.»

Sobre Diego, que continua fora das suas escolhas: «Também é bom jogador, um número 10 com muito mais experiência do que Anderson. Se treinar bem terá sempre possibilidade de entrar nas minhas escolhas»

Anderson (FC Porto)

«É sempre bom representar um grande da Europa. Tenho de trabalhar e não posso parar para lhe dar continuidade. Se precisar de voltar à equipa B posso voltar sem qualquer problema. Espero ganhar muitos títulos no F.C. Porto.»


Ficha do Jogo

Liga 2005/06 (25ª jornada)

Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 33 909 espectadores
Árbitro: Paulo Pereira (Viana do Castelo)
Assistentes: Alfredo Braga e José Carlos Santos
4º árbitro: Cosme Machado

F.C. PORTO: Vítor Baía; Bosingwa, Pepe e Pedro Emanuel «cap.»; Raul Meireles; Quaresma, Lucho Gonzalez, Cech e Ivanildo; Adriano e McCarthy
Substituições: Ivanildo por Lisandro Lopez (61m), McCarthy por Anderson (68m) e Lucho por Ibson (79m)
Não utilizados: Paulo Ribeiro, Ricardo Costa, Bruno Alves e Hugo Almeida
Treinador: Co Adriaanse

NACIONAL: Diego Benaglio; Miguelito, Ávalos «cap.», Cardozo, Ricardo Fernandes e Alonso; Bruno, Chainho, Juliano e Miguel Fidalgo; André Pinto
Substituições: Cardozo por Emerson (46m), Miguel Fidalgo por Chilikov (46m) e Bruno por Marchant (62m)
Não utilizados: Hilário, Cléber, Pateiro e Nuno Viveiros
Treinador: Manuel Machado

Ao intervalo: 2-0
Marcadores: McCarthy (17m), Pepe (44m), Lucho (51m)
Disciplina: Cartão amarelo a Bruno (59m)

* Fotos AP (Associated Press)

quarta-feira, março 01, 2006

MST: Um perdedor e um ganhador

«1. As estatísticas não ajudam Co Adriaanse nem legitimam as suas ideias, decerto geniais. Anote-se: — em dez jogos contra o seu compatriota e rival Ronald Koeman, perdeu oito, empatou dois, ganhou nenhum; — em nove jogos de importância máxima feitos com o FC Porto esta época, perdeu cinco, empatou três, ganhou um; — nos cinco jogos feitos com os outros três clubes que têm dominado o topo deste Campeonato, perdeu dois, empatou três, ganhou nenhum; — nos sete últimos jogos do Campeonato, com o «revolucionário» sistema de quatro avançados (tão elogiado por tantos comentadores que certamente não são do FC Porto), perdeu dois, empatou dois e ganhou três, tendo marcado um total de seis golos — o que não chega sequer a dar média de um por jogo. Quando as pessoas têm ideias próprias e delas não abdicam diz-se que têm personalidade. Quando essas ideias estão erradas ou dão o resultado adverso do pretendido, e mesmo assim se insiste nelas, em vez de personalidade, diz-se que a pessoa tem manias. E, quando, de falhanço em falhanço, se continua a insistir nas mesmas ideias, com prejuízo dos outros, a mania passa a teimosia. Esse é o problema de Co Adriaanse. Ele ainda não percebeu que o FC Porto não é o Az Alkmaar ou qualquer outra equipa sem nome, sem orçamento e sem responsabilidades para poder servir de cobaia às experiências revolucionárias do seu treinador. Ainda não percebeu bem que a equipa que lhe caiu do céu vir treinar, ao contrário do seu treinador que nunca conquistou nada, está recheada de títulos e era, há menos de dois anos atrás, campeã da Europa e, há um ano, campeã do Mundo. Manifestamente, parece-me haver umerro de interpretação, ou de tradução, de Co Adriaanse relativamente ao contrato de trabalho assinado com o FC Porto: é ele que tem de provar que está ao nível do FC Porto e não este que tem de se adaptar ao génio infrutífero do seu treinador. Na breve antevisão do jogo que aqui publiquei no próprio domingo, escrevi que Co Adriaanse, se realmente queria começar a mostrar que é capaz de conquistar alguma coisa e vencer algum jogo importante, deveria jogar na Luz em 4x3x3 e pôr os melhores nos seus lugares, em vez de continuar a teimar que vai ficar para a história do futebol como o treinador que jogava em todo o lado de peito aberto... e em todo o lado fracassava. Ao escrevê-lo, porém, e ao contrário do que o próprio Ronald Koeman previu, eu já sabia que ele ia insistir no tal esquema de três defesas e quatro avançados, quanto mais não fosse para mostrar a tal personalidade que a tantos deslumbra e serve. E assim foi. O efeito mais imediato deste sistema super ofensivo foi uma repetição do já visto nos jogos anteriores: a incapacidade de marcar golos e de criar oportunidades em número suficiente para tal. A inflação de avançados conduziu a que faltassem os espaços e as ideias, ao ponto de dois deles, o Ivanildo e o Adriano, terem passado o jogo todo sem saber para onde ir e o que fazer ao certo. E, enquanto sobravam avançados na frente, atrapalhando-se uns aos outros, faltava um médio a meio-campo para segurar o jogo e os lançar, e a defesa só não soçobrou porque o Nuno Gomes e o Simão não deram uma prá caixa e mais uma vez ficou à vista que todo este sistema de jogo está dependente de um super-Pepe e um super-Paulo Assunção. A eles deve Co Adriaanse não ter saído da Luz vergado a uma derrota ainda maior, quando, num acesso de total descontrolo, resolveu tirar o Quaresma, que era o único a tentar abrir a defesa do Benfica pelos lados, e meter em campo nada menos do que quatro pontas-de-lança — o McCarthy, o Adriano, o Hugo Almeida e o Lisandro. Ao mesmo tempo que, inevitavelmente, mandava entrar também o fantasma do Jorginho, com tudo isso abrindo verdadeiras avenidas para o contra-ataque encarnado. Uma vez mais, como já me tinha ocorrido no jogo do Dragão da primeira volta, dei comigo a pensar que Adriaanse vai para estes jogos sem ter feito nenhuma das três coisas essenciais no trabalho de casa de um treinador: não estuda os adversários, não elabora um plano de jogo, muito menos adaptável em função dos acontecimentos que vão ocorrendo, e não prepara os lances de bola parada — que nas outras equipas, a começar pelo Benfica, contribuem largamente para a percentagem de golos e neste FC Porto raramente resultam em golo. Chegou a ser confrangedor ver a forma como eram cobrados os livres e os cantos a favor do FC Porto. Agora começo a perceber porquê os treinos no Olival são sempre à porta fechada...

2. A desculpa de Co Adriaanse para a derrota vai ser o Vítor Baía —até me admira como é que não o disse logo a seguir ao jogo, como é seu hábito. O fim injustíssimo da carreira de Baía foi cientificamente preparado por Adriaanse. Primeiro, tirando-o da baliza após um lance infeliz na Amadora, sem lhe dar hipótese de se redimir. Depois, deixando-o de fora em todos os jogos fáceis, para o relançar num teste de fogo como o da Luz, onde qualquer deslize dele teria consequências praticamente irreversíveis. É claro que Adriaanse não teve culpa que o Helton se tivesse lesionado logo na pior altura, mas teve responsabilidade directa na forma como abalou os indíces de confiança de Baía, deixando-o psicologicamente impreparado para regressar neste jogo. Depois, a falta de sorte, os efeitos caprichosos desta nova bola, o talento, parece que único, que Robert tem para cobrar livres, e a falta de fé de Baía em corrigir o seu movimento a tempo, fizeram o resto. Ditaram uma derrota, que pode ter sido merecida pelo que o FC Porto não jogou, mas que foi muito pouco justificada pelo que o Benfica jogou. Este Benfica de anteontem seria tranquilamente digerido sem espinhas por um FC Porto normal, orientado por alguém com ideias normais — tais como ganhar de vez em quando.

3. Eis uma coisa que não se pode dizer de José Mourinho. Ele é o verdadeiro exemplo do ganhador, de alguém que, acima de tudo, está ali para ganhar — sempre, se possível. Ao contrário de Adriaanse, Mourinho estuda os adversários ao detalhe e para cada jogo tem uma estratégia montada, a qual tem o dom de antecipar quase sempre o que o adversário vai fazer em cada situação. É por isso que ele vence tantas vezes: porque é um perfeccionista, um profissional completo, um viciado na vitória. Mas há um reverso da medalha, como há sempre. Um, é que Mourinho tem dificuldade em saber perder. O outro é que, quando não há fantasistas na equipa, o futebol dele, se bem que continue vencedor, fica como o futebol do Chelsea: terrivelmente previsível e aborrecido, «industrializado », como alguém o definiu há dias. Já aqui escrevi há tempos que tenho a convicção de que o FC Porto de Mourinho venceria tranquilamente o Chelsea de Mourinho. Esta semana, o Barcelona de Ryjkaard e de Ronaldinho, Deco, Messi e Eto’o, destroçou por completo o futebol científico e sem alma do Chelsea. E só não o esmagou, porque na baliza dos londrinos está um dos três melhores guarda-redes do Mundo. Ainda bem para o futebol, porque o que o Barcelona foi dizer a Stamford Bridge é que o talento, o génio e o improviso ainda são armas determinantes neste jogo. A sangue-frio José Mourinho tinha obrigação de o ter reconhecido e ter cumprimentado o adversário. Desculpar-se coma expulsão de Del Horno e atacar o árbitro foi uma atitude de mau perdedor. Primeiro, porque o Del Horno foi muito bem expulso, pela simples razão de que, não conseguindo aguentar mais a tourada que o Messi lhe estava a dar, resolveu ver se o arrumava de vez. E, segundo, porque antes e depois da expulsão de Del Horno, a superioridade do Barcelona foi tão flagrante, a qualidade e beleza do seu jogo tão superiores, que qualquer outro desfecho seria uma tremenda injustiça. Resta a Mourinho provar em Camp Nou que o Chelsea é mais do que uma equipa quase vulgar, com um grande treinador.»

Miguel Sousa Tavares, in A Bola (28/02/2006)