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quarta-feira, agosto 24, 2005

Já começou...

«Jogo FC Porto-Estrela da Amadora, minuto 64'. Emerson ignora a bola, voltando-lhe as costas para se concentrar no seu alvo: Lucho González. A cotovelada com que o brasileiro agrediu o médio argentino do FC Porto não resultou da disputa acesa de um lance com o adversário, não foi um reflexo de defesa, nem um acidente involuntário. Foi um acto de violência premeditado com a frieza calculista que só pode resultar de patologia do foro psiquiatrico ou de uma sensação de impunidade que o cartão amarelo mostrado por João Vilas Boas só serviu para justificar e que a multa de 50 euros aplicada pela Comissão Disciplinar da Liga reforça.

Fosse a mesma cotovelada disparada à queima-roupa por um jogador do FC Porto e lá teriam os senhores juizes da CD da Liga que voltar a correr das férias, ainda com os calções a pingar e a toalha amarrada no cabelo, para punir exemplarmente o agressor. Assim, repete-se o filme da última temporada. Enquanto os jogadores do FC Porto forem só as vítimas, os meritíssimos juizes do CD da Liga fazem como os três macacos da lenda, embora esses sejam genericamente considerados sábios: não vêm, não falam e não ouvem. Limitam-se a guardar os sumaríssimos na mesma gaveta onde estiveram trancados durante toda a primeira volta da última temporada, para lhes sacudir o pó e pô-los a uso ao primeiro sinal de falta de espírito cristão por parte dos portistas. Quando jogadores como Lucho González se cansarem de oferecer a outra face a cotovelos alheios sem a proteção que lhes devia ser garantida pelos árbitros, quando eventualmente passarem de vítimas a agressores, lá vai estar a CD no papel de Santo Ofício, a explicar que já chega, que há cotoveladas e cotoveladas e que é preciso actuar com firmeza para evitar abusos. De preferência, reclamarão as luzes da ribalta em vésperas de um clássico, porque pura e simplesmente não conseguem evitar a queda para o melodramático. É só uma questão de tempo.»

Jorge Maia, in O Jogo (24/08/2005)

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