FC Porto goleia Benfica
No pavilhão de Gondomar, perante cerca de 1000 adeptos, os golos foram apontados por Pedro Gil (2), Reinaldo Garcia e Reinaldo Ventura.
Notícia no Infordesporto
... aos comentários aqui no Azul e Branco.
Foram muitos os acontecimentos relevantes ou simplesmente curiosos que marcaram estas semanas de ausência. Assim sendo, em jeito de «flashback», aqui ficam algumas notas:
# A conquista do tão aguardado título, o 21º da histórida do FC Porto. Após a vitória em Alvalade seria uma questão de tempo até que matematicamente o campeão ficasse decidido. Aconteceu em Penafiel e até temos 9 pontos de vantagem sobre o 2º classificado. Quem diria!
# Foi arquivado o processo a Pinto da Costa por causa do jogo FC Porto vs. Estrela da Amadora. Se para uns foi feita justiça, para outros a mesma justiça só funcionaria de verdade se o Presidente do FC Porto fosse a julgamento e de seguida condenado. Para esses só posso aproveitar o facto do FC Porto se ter sagrado campeão e desejar duplamente as melhoras.
# Na luz, as habituais trocas de palavras azedas entre dirigentes já começou. A luta por um lugar europeu é uma realidade, o treinador está na corda bamba e até se constou que a separação da dupla maravilha esteve eminente. O costume.
# Em Alvalade, o clube deixou de ter dois presidentes (em simultâneo) e um dos «ex» venceu as eleições que prometeu não concorrer.
# Scolari esteve nas bocas do mundo. O treinador campeão do Mundo e vice-campeão europeu foi dado como certo na selecção inglesa após o Mundial da Alemanha com um vencimento quase irrecusável. Quase por Scolari recusou, deixando a porta aberta a mais uma renovação com a FPF de Madaíl. Resta saber se Portugal «cobre» a oferta inglesa...
«1. Aqui há umas duas décadas, faltavam ao FC Porto cerca de vinte títulos de campeão para atingir a marca do Benfica, e uns dez para atingir a do Sporting. Com este 21º título, o FC Porto já leva três de avanço sobre o Sporting e já só está a dez do Benfica — já faltou muito mais! Este foi, porém, de todos os títulos de que me lembro, aquele que menos entusiasmo me causou. Primeiro, porque era esperado, quase obrigatório, face à imensa diferença de qualidade em quantidade entre a equipa portista e os rivais directos; depois, porque à semelhança da época passada, foi um campeonato mal jogado, em que o FC Porto foi apenas o menos mau de todos e o mais sólido na hora da verdade. Onze vitórias por 1-0, entre as 23 arrecadadas até aqui, dizem muito sobre a forma como o FC Porto chegou a este título: foi superior, mas apenas quanto baste e nada ou quase nada nos jogos com os rivais directos — um empate, uma vitória e duas derrotas.
2. O jogo do parto do novo campeão foi um retrato fiel deste estranho FC Porto, no modelo de jogo que Co Adriaanse lhe impôs para o último terço do campeonato: muita posse de bola, grande caudal ofensivo, instalação permanente no meio campo adversário, uma paradoxal segurança defensiva e, depois, uma confrangedora incapacidade ou de criar oportunidades de golo, ou de as concretizar. Contra o último da tabela, o FC Porto criou, como lhe competia, umas cinco ou seis opurtunidades claras de golo, mas apenas lá chegou através de um penalty — o segundo de todo o campeonato e talvez a única decisão favorável e determinante da arbitragem de que dispôs em toda a época. Chega a ser enervante ver jogar esta equipa que tanto prometeu na pré-época: não se percebe, de facto, o que falta para que os centros do Quaresma sejam aproveitados como merecem, para que o Mccarthy deixe de apontar às traves, o Hugo Almeida deixe de cabeçear todas as bolas para fora, alguém consiga acertar com um livre na baliza. Em teoria, aquilo está tudo certo — o sistema, o andamento, a atitude. Mas depois não funciona, excepto na defesa e muito por mérito desse extraordinário jogador que se está a afirmar como merece, chamado Pepe (obrigado, mais uma vez, José Mourinho!).
3. Já disse que uma das qualidades que eu reconheço sem dificuldade alguma a Co Adriaanse foi a de transformar uma equipa e uma mentalidade de jogo de quase-sarrafeiros, na equipa mais disciplinada e que mais «limpo» joga no futebol português. Esta semana Adriaanse voltou a revelar outra das suas qualidades, tal como aquela, habitualmente arredada do discurso dos treinadores e dirigentes do futebol português. Disse ele que em Portugal todos se preocupam demasiado com as arbitragens e muito pouco com o espectáculo. De vez em quando há alguém que diz o mesmo, mas Adriaanse tem a autoridade de nunca se lhe ter ouvido uma só queixa contra a arbitragem em todo o campeonato: haverá algum treinador da 1.ª Liga que possa dizer o mesmo? Último exemplo em data: o Sporting precisava de vencer em casa uma Naval aflita e desfalcadíssima: jogou apenas 15-20 minutos de ataque convincente e criou não mais de três ou quatro oportunidades, contra duas do adversário. Ao entrar-se na segunda parte, tornou-se evidente que a «táctica» — orquestrada das bancadas para o campo, como é habitual ali — passou a ser a de chegar ao golo através de penalty. Foram quatro ou cinco os reclamados, por tudo e por nada e com o apoio militante dos comentadores da Sport TV (também já um «clássico»). Contas feitas, porém, houve apenas um lance, que não há a certeza se fora ou dentro da área, e em que dois jogadores se agarram à vez, terminando com a queda do jogador do Sporting e que talvez, talvez, se possa considerar penalty. Mas foi um lance completamente fortuito, que não resultou de qualquer ataque perigoso ou de jogada que o justificasse. Foi quanto bastou para que, pela enésima vez, treinador e dirigentes sportinguistas lá viessem com a ladainha do costume de que só não ganharam por causa do árbitro e que há suspeitas de que alguém lhes quer tirar o segundo lugar para o dar ao Benfica. E, no final, lá estava o repórter da Sport TV a iniciar a entrevista a Paulo Bento, não com uma pergunta, mas com uma opinião: «O Sporting, que tem razões de queixa da arbitragem...». Porque não lhe perguntou antes se o Sporting só conseguia vencer a Naval em casa de penalty? E se ele achava que era um eventual ✒ penalty não assinalado que podia justificar uma exibição tão falhada? Mas é este tipo de jornalismo, que vive obcecantemente à procura do «caso» de arbitragem, preferindo acirrar a polémica permanente do que defender o espectáculo, que contribui decisivamente para o clima de desresponsabilização onde sempre encontram conforto e desculpa os fracos e os falhados.
4. Mudam-se os tempos, muda-se a classificação, mudam os suspeitos — quanto mais não seja, para dar folga ao «suspeito do costume». Luís Filipe Vieira, agora o alvo das suspeitas sportinguistas, fez saber, por seu lado (não é para valer, mas faz de conta...), que só se recandidata se avançar o processo «Apito Dourado» e se «houver uma limpeza no futebol português». E esta atitude, como sempre, é apresentada como uma coisa muito digna e louvável, da parte do presidente do Benfica. Mas porque é que ninguém lhe lembra que o principal arguido no «Apito Dourado» é precisamente o homem que ele escolheu como parceiro estratégico para «limpar o futebol português»? E porque é que ninguém lhe lembra que a estrutura que precisa de ser «limpa» é precisamente aquela que ele montou, a meias com Valentim Loureiro, na Liga e nas suas comissões de Arbitragem e Disciplinar — e cuja conquista, recorde-se, ele afirmou ser essencial para que o Benfica pudesse voltar a ser campeão, como foi no ano passado e nas circunstâncias em que o foi? Melhor do que esta só mesmo o sr. Stanley Ho a recomendar aos jogadores que sejam prudentes nos seus casinos...
5. Previ aqui há tempos que o Vitória de Guimarães — um clube pelo qual sempre tive simpatia — desceria esta época. E desceria pela simples razão de que joga, talvez, o pior e mais ineficiente futebol que eu vi jogar neste campeonato. Mas depois dessa previsão, o Vitória começou a recuperar devagarinho e surgiu a hipótese da salvação no último jogo ou no último minuto. Mas não creio que venha a haver milagre: não acredito que o FC Porto ou Adriaanse se disponham a facilitar no domingo e, depois disso, já não haverá margem de salvação. Lamento dizê-lo, até porque os seus adeptos não mereciam de forma alguma tal sorte, mas a descida é merecida. Não vale a pena, aqui também, inventar cabalas e conspirações. Nem tudo o que parece não o é: e a mim parece-me que o Vitória nunca mostrou futebol para a 1.ª Liga.»
«1. Parece ser sina minha nos últimos dois anos estar sempre longe quando o FC Porto joga encontros decisivos. No FC Porto-Benfica do ano passado, estava no Brasil e segui o jogo... por telemóvel, por não ter conseguido encontrá-lo em transmissão local. No FC Porto-Once Caldas, que atribuía o título mundial, estava a caçar perdizes na Serra de Mértola e, por opção própria, voltei a seguir o jogo por telemóvel, porque, por maior que seja a minha paixão pelo futebol e pelo FC Porto, jamais, em meu perfeito juízo, trocarei uma caçada às perdizes em Mértola por um jogo de futebol — mesmo que ele possa atribuir o título de campeão do mundo ao meu clube. Este ano, no FC Porto-Benfica de tão triste memória, felizmente estava outra vez a caçar perdizes, desta vez na região da Beira Baixa. E agora, calhou voltar a estar no Brasil, a quando do «jogo do título», entre Sporting e FC Porto.
Mas desta vez não me preocupei muito, porque, tendo desde há vários anos deixado de frequentar Alvalade — que considero o pior ambiente para poder viver um jogo de futebol, com um público doente de facciosismo como em lado algum — era pacífica a decisão de ver o jogo através da televisão e, de passagem pelo Rio de Janeiro, tanto me fazia ver lá como à distância de meia dúzia de quilómetros de Alvalade. Assegurei-me previamente de que o hotel tinha RTP-Internacional e mais tranquilo fiquei quando, chegado de véspera, liguei para o canal português e vi a promoção «não perca o Sporting-FC Porto de amanhã, aqui na RTP-Internacional».
À hora do jogo, ligo o canal RTP e... nada. Nem jogo, nem uma explicação. Pior: a promoção à transmissão continuava, embora o jogo já tivesse começado e a transmissão não. Percebi então que a transmissão seria em diferido, se bem que não dissessem a que horas, e de novo me vi forçado a ir seguindo as incidências do jogo por telemóvel, directamente para um amigo portista, que estava clandestino entre os cativos do Sporting e que, bastante assustado, me ia sussurrando informações. Entretanto, continuava ligado à RTP-I, na esperança de que, a qualquer momento, iniciassem a transmissão em diferido. Nesse entretanto, foi-me dado ver uma vez mais a linha editorial da RTPI. E o que vi serviu para voltar a confirmar o que já sabia: aquilo envergonha Portugal. E agora, que este artigo de A BOLA já poderá ser lido pelas nossas comunidades emigrantes dos Estados Unidos, eu queria deixar-lhes aqui esta mensagem: não acreditem no Portugal que a RTP-I leva até vós — esse Portugal já não existe há muito e felizmente. Esse Portugal provinciano, atrasado, bafiento e salazarento, dos campanários em pôr do Sol, os pescadores a saírem para a faina em «fade out» com florzinhas em primeiro plano, os programas humorísticos e musicais rascas como na televisão do Ramiro Valadão, as entrevistas subservientes feitas por serventuários do jornalismo a «líderes» da comunidade emigrante, enfim, esse Portugal de antanho que vocês deixaram para trás há décadas já não existe, excepto nos brilhantes cérebros dos responsáveis da RTP-I. Numas coisas estará melhor, noutras pior, mas definitivamente está morto e enterrado. E é pena que o canal que os contribuintes portugueses pagam para levar a imagem de Portugal ao mundo não só não transmita em directo os jogos de futebol que interessam aos milhões de portugueses espalhados por aí, como ainda se dedique a levar-lhes uma imagem falsa e deprimente de um país que se calhar era assim que eles queriam que continuasse a ser. A RTP-Internacional é um canal antiportuguês, ao serviço da mediocridade, da preguiça e do antigamente.
2. Lá pelas onze da noite, no Rio, consegui finalmente ver o jogo em diferido, já mais do que digerido o resultado. Do que vi, confirmei, desculpem-me lá, a justeza da pré-análise que aqui tinha feito ao jogo: que era fácil vencer este Sporting ou, pelo menos, evitar que ele ganhasse. Bastava aplicar as mesmas armas que o Sporting vinha aplicando ao longo do Campeonato: jogar em contenção e esperar pelo erro alheio. Foi o que Co Adriaanse se dispôs finalmente a fazer e, por isso, ganhou o primeiro «clássico» e, com ele, o Campeonato. O jogo teve assim nenhuma oportunidade para o Sporting e duas para o FC Porto e foi uma profunda chatice. Mas, sobre o mérito da vitória portista, ninguém teve dúvidas, excepção feita ao inevitável Ricardo. Já Paulo Bento, foi sério na hora da derrota.
Acertei também na previsão de que o FC Porto não terminaria o jogo com onze, graças à necessidade que Duarte Gomes sentiu de, no espaço de três minutos, inventar dois amarelos a Bosingwa, para compensar a expulsão, essa justíssima, de Sá Pinto. E falhei na previsão de que, se perdessem, os sportinguistas atribuiriam a derrota ao árbitro — mas apenas pela incontornável razão de que não tiveram a mais pequena razão de queixa do árbitro.
Para o «jogo do título», entre um clube de Lisboa e outro do Porto, a Comissão de Arbitragem rompeu coma tradição estabelecida do «impedimento geográfico» e nomeou um árbitro de Lisboa. A decisão foi saudada por todos os comentadores lisboetas, ninguém estranhando que se tenha logo escolhido o tal «jogo do título» para inaugurar novas regras. E, quando o árbitro escolhido se lesionou e foi substituído por outro, coincidentemente também de Lisboa, toda a gente continuou a achar normal e saudável, muito embora Duarte Gomes não pudesse apresentar currículo semelhante ao de Pedro Proença. Pois, tudo normal e saudável... E, se tem sido ao contrário? Se tivesse sido escolhido um árbitro do Porto e, na impossibilidade deste, a segunda escolha fosse também um árbitro do Porto? Será que, por exemplo, os responsáveis sportinguistas teriam mantido sempre o olímpico silêncio que mantiveram os responsáveis portistas?
3. Uma coisa é pacífica: não há ninguém que possa atribuir um só ponto conquistado pelo FC Porto à arbitragem. Duvido que algum outro clube se possa gabar do mesmo e isso faz toda a diferença em relação ao Campeonato e ao campeão do ano passado. Ao contrário do Benfica em 2005, o FC Porto não acaba o Campeonato com os seus últimos doze golos todos marcados de penalty ou de livre à entrada da área. Aliás, em matéria de penalties, o FC Porto — apesar de ter o melhor ataque do Campeonato e, unanimemente reconhecido, o sistema mais ofensivo de todos — teve apenas um penalty assinalado a seu favor. O Sporting teve seis e o Benfica oito. Há estatísticas que matam...
4. O FC Porto (e isso é um indiscutível mérito de Co Adriaanse) é também a equipa mais disciplinada deste Campeonato. A que menos cartões tem, a que menos faltas comete. Esse facto tem sido motivo de profunda decepção para os zelotas da Comissão Disciplinar da Liga, cujo único objectivo e razão de ser, conforme se tornou público e notório, é a perseguição disciplinar aos jogadores do FC Porto. Sem portistas para castigar, o CD enterrou os célebres «sumaríssimos» — que desempenharam um papel não despiciendo na decisão do título da época passada — e os seus distintíssimos juízes emigraram para parte incerta. Mas esta semana ressuscitaram do seu exílio, para castigar uma pisadela do Ricardo Quaresma que o árbitro de Alvalade não viu. Pasme-se: só à 30.ª jornada do Campeonato é que o CD encontrou matéria para um sumaríssimo e, ó coincidência extraordinária, logo contra um jogador do FC Porto!
Muito inteligentemente, a direcção do FC Porto resolveu nem contestar o dito «sumaríssimo», não fosse a contestação ajudar a cumprir o objectivo oculto, que era o de tirar o Quaresma da final da Taça. E contestar para quê, quando está mais do que cristalinamente claro para que serve, que objectivos cumpre e que falta absoluta de pudor e de vergonha tem este órgão da Liga, escolhido por Valentim Loureiro e Luís Filipe Vieira? O simples facto de ele continuar a existir com esta composição e esta transparência de intenções cobre de vergonha os seus mandantes e mostra até que ponto, realmente, os títulos conquistados pelo FC Porto são bem mais difíceis de obter do que os dos outros.
5. Se porventura, em lugar do Jorginho, tem sido o Liedson a marcar a oito minutos do fim em Alvalade, Co Adriaanse era um falhado. Assim, parece que recolhe a unanimidade dos elogios. Um jornalista do Correio da Manhã telefona-me para o Brasil, para saber se quero rever as minhas opiniões sobre o treinador do FC Porto. É verdade que por aqui o vento sopra fraco, o que menos me inspira à função de cata-vento. A seu tempo, isto é, no final da estação, direi o que penso sobre o assunto. Sopre o vento de onde soprar.»
«1. Escrevia-se na sexta-feira passada aqui em A BOLA: «Embora oficialmente em Alvalade ninguém o assuma, não deixou de causar alguma estranheza o facto de Lucílio Baptista ter sido o eleito para o V. Guimarães- Sporting... Tratando-se de um árbitro com muita experiência, era tido como um forte candidato a dirigir o Sporting-FC Porto. Afinal, vai estar em Guimarães...» De facto, foi visível durante vários dias o esforço concertado de dirigentes, treinador, comentadores e jornalistas leoninos no sentido de pressionarem para conseguir ter o seu árbitro fétiche no chamado jogo do título. E foi transparente a sua frustração, quase indignação, ao constatarem que, em lugar da sorte grande, lhes saiu a terminação. Ora, para além do facto, sempre indecoroso, de assistir a uma campanha organizada para obter a nomeação de determinado árbitro para determinado jogo, no caso concreto da pressão a favor de Lucílio Baptista, tal desejo é simplesmente obsceno.
Lucílio Baptista é consabidamente um dos piores árbitros de primeira categoria em actividade – basta consultar as classificações dos vários jornais para constatar que o seu nome nunca figura entre os primeiros. Depois, foi já o escolhido para dirigir esta época o FC Porto-Benfica e (olha a coincidência!) também o FC Porto-Sporting. Depois, foi o árbitro escolhido para dirigir nada menos que quatro dos últimos cinco Sporting-FC Porto ou vice-versa para o campeonato – e em todos, sem excepção, prejudicou o FC Porto. Enfim, para além desses duelos onde parecia ter lugar cativo, Lucílio Baptista revelou sempre, nos restantes jogos do FC Porto que arbitrou, uma aversão invencível ao azul e branco – como se viu recentemente no Marítimo-FC Porto para a Taça e como já se tinha visto na final da Taça de há dois anos, um Benfica-FC Porto onde a sua dualidade de critérios foi decisiva para o desfecho final. Com tal historial a seu favor, é preciso ter desplante para achar que ninguém mais que ele era o árbitro recomendável para Alvalade. O facto de os sportinguistas tanto se terem batido pela sua nomeação dá muito que pensar sobre os célebres bastidores do futebol português.
Mas, se não conseguiu Lucílio para Alvalade, o Sporting conseguiu-o para Guimarães – que, como alguém do clube fez notar, era tão decisivo como o jogo de Alvalade. E em Guimarães, sem grande ocasiões para brilhar, Lucílio Baptista voltou a revelar os seus créditos: deixou dois penalties por assinalar, um para cada lado. Só que o primeiro era a favor do V. Guimarães e, se convertido, teria posto o Vitória na frente do marcador. Já no Dragão, no FC Porto-Sporting fizera exactamente o mesmo, deixando por assinalar um penalty para cada lado, sendo o primeiro favorável ao FC Porto.
2. O Sporting recebe então o FC Porto sem Lucílio Baptista mas com a grande embalagem psicológica de quem vai em 10 vitórias consecutivas, sete jogos sem sofrer golos e uma tão grande confiança que não há jogador ou dirigente que não afirme que o campeonato não lhes escapará. Mas, como mais uma vez se viu em Guimarães, o futebol do Sporting é insípido e tem como credo único esperar por um erro de arbitragem ou por um deslize do adversário. Depois, o Liedson resolve. Um futebol assim pode ser vencido:
— adoptando uma atitude de cautela e expectativa semelhante e, já que são eles que têm de vencer o jogo, deixar-lhes a iniciativa da construção, do risco e da imaginação;
— evitar a todo o custo qualquer jogada dividida ou confusa que possa proporcionar-lhes um penalty ou um livre à entrada da área;
— evitar qualquer palavra ou gesto de desagrado para com a arbitragem, por mais brando ou justificado que seja;
— não deixar nunca o Liedson afastar-se mais de meio metro, nem que ele jure que só vai à casa de banho;
— quando no ataque, cruzar bolas por alto para a zona limite da pequena área e ter pelo menos dois jogadores preparados para acorrerem às sobras;
quer coisa de verdadeiramente anormal suceda, tal deve bastar para que o FC Porto saia de Alvalade na condição de principal candidato ao título.
3. Com esta ou outra táctica, mais uma vez Co Adriaanse tem uma oportunidade para mostrar que não é um born looser e é capaz de vencer algum jogo importante (em 11 oportunidades dessas, esta época, só conseguiu vencer uma vez, contra o Inter, e com uma tremenda dose de sorte).
Mas também, a avaliar pelo ensaio geral de domingo, contra o quase condenado Gil Vicente, o que não abundam por ali são ideias de como vencer jogos. A tão louvada táctica ultra-ofensiva de Adriaanse, os dois extremos, os quatro avançados, a subida constante dos defesas e a mobilidade intensa de toda a frente de ataque têm produzido paradoxalmente uma constrangente dificuldade de chegar ao golo, a par de uma grande eficácia defensiva, que se deve ao enorme Pepe. Com os jogadores que tem, com as facilidades de banco de que dispõe, não se compreende que até para jogar em casa contra dez, e depois nove, jogadores do Gil Vicente a equipa revele uma tamanha falta de imaginação e simplicidade demeios para conseguir marcar golos. O FC Porto deve ser a equipa do campeonato que menos golos obtém de bola parada (o que fazem nos treinos?) e é seguramente aquela que necessita de mais ataques, mais posse de bola e mais remates para facturar um golo. E, se o Sporting é liedsondependente, o FC Porto tem passado a época inteira a viver do desalinhamento de Ricardo Quaresma dentro de um esquema de jogo previsível e inócuo.
4. Amanhã à noite, em Barcelona, o Benfica joga a tremenda esperança de conseguir continuar a alimentar um sonho fantástico. Todos temos consciência de que, para que isso suceda, vai ter de ser o grande Benfica que jogou em Liverpool a partir dos 30 minutos de jogo, com um Simão igualmente inspirado e com a mesma sorte sobrenatural provocada pelas rezas de Moretto que teve na Luz contra este Barcelona e nos primeiros 20 minutos de Liverpool.
A meu ver, a crítica feita ao jogo da Luz da passada semana não ajudou muito a mentalizar os jogadores para a tarefa ciclópica que os espera amanhã à noite. Colocando toda a ênfase no penalty não assinalado a Tiago Motta, fazendo disso quase uma questão diplomática com a Catalunha, a crítica esqueceu-se de dizer que a vitória através desse penalty, deliberadamente provocado e caído do céu, teria atraiçoado por completo a verdade do que se passou em campo e teria apagado, em mais um milagre absoluto, o muito mau que o Benfica fez e consentiu. Ouvir, sem pestanejar, o Simão declarar no final do jogo, ao microfone da TSF, que «a sorte não esteve do nosso lado, esta noite», e continuar a insistir na tecla do penalty, como se ele tivesse sido a nota dominante do jogo e o único factor que determinou o seu desfecho, não ajuda, a meu ver, os jogadores a mentalizarem-se de que vão ter de fazer muito mais amanhã do que fizeram há oito dias.
Nestes grandes jogos europeus as grandes equipas nunca se queixam de um árbitro que tenha cometido apenas um erro: porque elas sabem que é preciso contar com isso e ser capaz de vencer, apesar disso. Ora, o que não deixa de me impressionar é uma crítica que, por razões clubísticas ou patrióticas, é capaz de fazer de um erro do árbitro o padrão de análise de todo umjogo – independentemente daquilo a que se chama a verdade ou amoral do jogo. A diferença entre, por exemplo, o penalty que o árbitro não assinalou contra o Barcelona e os dois que não assinalou no sábado, no Restelo, contra o Benfica, é que no primeiro caso esse penalty talvez tivesse permitido uma vitória que o Benfica não justificou pelo que jogou e, no segundo caso, permitiu, de facto, uma vitória que o Benfica não justificou (e, com ela, já lá vão seis pontos seguidos graças a erros de arbitragem, perante o silêncio eloquente do sr. Veiga...). Para ganhar a Europa, mais sorte menos sorte, mais ou menos erros dos árbitros, é preciso ser o melhor. É isso que o Benfica tem demostrar amanhã à noite. De certeza que não é fácil mas foi o que fez contra o Liverpool.»